- Gênero: Animação
- Direção: Hiroyasu Ishida
- Roteiro: Hiroyasu Ishida, Hayashi Mori
- Duração: 120 minutos
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Animes raramente decepcionam em sua capacidade de nos fazer refletir sobre coisas que, muitas vezes, nem estão na linha de frente da sinopse. Assim como já aconteceu esse ano na Netflix com Bubble, essa nova estreia Driftin Home tem ainda mais capacidade de nos levar para lugares distantes. Sua narrativa protagonizada por seis crianças tende a tocar ainda mais os adultos, com as questões que o filme irá levantar em sua totalidade. Os pequenos podem ter uma bela lição para o hoje, além de poder curtir um visual que nunca cansa de surpreender, mas os adultos mergulharão em um passado de renúncias que nos acompanha pela vida afora. Ser adulto é deixar partir o que já passou, e viver à margem das lembranças de outros tempos, sem se deixar levar pela depressão.
Hiroyasu Ishida está em sua segunda direção em longas, e em sua estreia como roteirista. Apesar da juventude (tem apenas 34 anos), a maturidade com que desenvolve e elabora os conflitos de cada personagem, além do universo que cria, fica na casa do impressionante. Sem tornar sua narrativa didática, o autor convida o espectador a embarcar com um grupo de crianças em uma viagem de autoconhecimento, na busca por amadurecer. O que o filme deixa claro é que não se trata de uma vontade deliberada, mas uma necessidade básica do ser humano. O amadurecimento faz parte da evolução, e dentro desse quadro, o desapego ao que ficou pra trás é essencial para que possamos vencer as barreiras que o futuro nos reserva, na idade que for.
Com a já conhecida capacidade técnica típica dos animes, Driftin Home encanta por nos fornecer o visual adequado ao que está sendo proposto. Há um balé fantástico acontecendo em cena, onde uma tempestade surreal carrega o grupo de crianças por uma viagem rumo ao oceano desconhecido, a bordo de um edifício em ruínas. Essa situação é apresentada com certo espanto para os personagens, mas logo é assimilada pela produção. Paralelo a essa situação, o que o longa propõe a título de discussão é muito humano, por isso tem de existir a compreensão de que não se trata de um produto apenas feérico. Suas cores tem a vivacidade de sempre vista nas animações japonesas, mas também carrega tons acinzentados que coloca o espectador dentro de uma seara introspectiva.
O cinza representado pelo tanto de concreto visto à todo tempo é contrastado com o verde que salta aos olhos da pele de Pinheiro, o personagem-enigma. O que esse contraste também representa é a própria ideia de dualidade entre a realidade e a memória, a primeira árida e a segunda explodindo de vida. O mundo que existe nas nossas lembranças é o que ficou dos momentos cruciais das nossas vidas, por isso ele é invadido pela natureza em flor. O filme mostra o embarque dos pequeninos em uma jornada onde escolhas precisam ser feitas, e a memória terá papel fundamental na amarração de sua jornada. É óbvio dizer que eles sairão maduros da experiência, mas o preço a ser pago é aquele de se desprender das lembranças que nos aprisionam.
Especialmente os protagonistas Kosuke e Natsume nos colocarão facilmente nos lugares de compreender que o futuro só chega, e com ele o afeto que se julga perdido, com a diluição das âncoras que jogamos durante a existência. A beleza de Driftin Home não cessa nem com o excesso de informações da primeira meia hora, que parece testar o espectador a respeito da sua memória fotográfica. Um acerto positivo que não está em todo anime é a confecção de personagens muito diferentes fisicamente entre si, que nos ajuda a separar as personalidades e suas histórias em particular. É da certeza gradativa desse entendimento de cada grupo de ideias e da memória subjetiva a cada um, que o filme consegue emocionar com facilidade e nos fazer refletir ainda mais.
Um grande momento
Pinheiro se revela