Documentário
Criador: Pedro Bial
Temporada: 1
Duração média: 60 min.
Canal Globoplay
“Às vezes o jornalismo cumpre sua função mais nobre, dá voz a quem não tem voz”, é assim que Pedro Bial descreve o papel da mídia, uma vez que era no silêncio que repousava a faceta mais cruel e predadora de João Teixeira, ou João de Deus. Apesar de falar de sua história, a série documental Em Nome de Deus, da Globoplay, tem como protagonistas as corajosas mulheres e suas vozes tão bem ouvidas, cuidadosamente amparadas pelo revelador fazer jornalístico.
A partir do trabalho investigativo da equipe do programa Conversa com Bial, chegou-se a várias vítimas de abuso do então médium mais famoso do Brasil. Mas nenhuma queria contar sua história e dar entrevista mostrando o rosto no estúdio, por vergonha ou por medo. Até que a holandesa Zahira Mous decide falar e puxa uma fila de centenas de denúncias, incluindo de uma das filhas de João de Deus, sendo necessária uma operação especial da polícia só para conseguir receber o volume que, de tão grande, fez qualquer questionamento ser refutado e João perdeu, de certa forma, sua força.
São 6 episódios de cerca de uma hora, parece muito, mas o currículo de João é grande, além dos abusos, outras facetas até então desconhecidas são reveladas: extorsão, posse de armas, tráfico de influência, sonegação fiscal, assassinatos e charlatanismo não só no Brasil. Mas o que torna cada episódio único e provoca a vontade de assistir tudo (mesmo conhecendo a história do crápula e mesmo tudo sendo pesado demais) são as sete mulheres que têm suas vidas e seus abusos contados por elas próprias.
Em um tipo de roda de apoio de terapia em grupo, estão as sete mais a roteirista Camila Appel que tem o papel de mediadora. A cada fala as vítimas vão se reconhecendo e se acolhendo, criando um ambiente de confiança e conforto visivelmente próspero para a quebra de qualquer segredo que (ainda) machuca. Ao mesmo tempo que triste, é muito bonito e o formato nos coloca dentro da roda.
Todas as sete mulheres não conseguiram reagir ao abuso ou porque João conduzia a coisa como sendo algo a ver com o tratamento (“se você não fizer o que estou falando, sua doença vai voltar”), ou porque estavam fragilizadas demais, ou temiam sua força física. O medo era duplo: do espírito e do homem. Além disso, todas concordaram que sabiam que podiam não ser a primeira nem a última. Vale a pena ver exemplos de iniciativas isoladas de denúncias frustradas e o quanto não apenas amigos próximos como a própria comunidade entendem que tudo não pode passar de calúnia, o que ressalta a importância do trabalho jornalístico aqui.
O que toda esta história mostrou, além do que já sabíamos sobre João de Deus, sobre o machismo estrutural e a justiça brasileira, é que quando o silêncio é quebrado, nunca mais ele é restabelecido, que apenas uma voz pode trazer luz para tantas outras vozes que podem se libertar de suas dores, de seu algozes, de seus passado e presente, e podem ter uma nova chance de um novo futuro e que o papel do jornalismo é dar voz e trazer luz, com o compromisso vital com a verdade e a integridade dos personagens.
Confira Em Nome de Deus, emocione-se e sempre tome coragem para dar voz ou se dar voz! Ninguém está só!
O melhor episódio
S01E03 – O Silêncio é a Lei