Crítica | Outras metragens

Em & Selma Go Griffin Hunting

Maternidade fantástica

(Em & Selma Go Griffin Hunting, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Alex Thompson
  • Roteiro: Alex Thompson
  • Elenco: Milly Shapiro, Pollyanna McIntosh
  • Duração: 18 minutos

Os ritos de passagem, quando contados no cinema, quase sempre carregam uma violência silenciosa, mas em Em & Selma Go Griffin Hunting essa violência é bem literal. Em um passado remoto, num mundo habitado por seres fantásticos, a transição para a vida adulta de uma garota é marcada pela caça dos poderosos grifos, criaturas míticas ancestrais. A tradição, transmitida de geração em geração, não está apenas no testar a coragem, mas em um exercício de obediência, um gesto que confirma a continuidade de um ciclo.

Habilidoso na construção da fantasia, Alexander Thompson faz de seu filme um conto de fadas sombrio, ainda que os elementos que assim o definam estejam à margem da trama. Em (Milly Shapiro) carrega dentro de si um olhar que não se alinha à brutalidade esperada. Ao contrário da mãe, Selma (Pollyanna McIntosh), sua relação com as criaturas é de fascínio. O filme se alimenta do conflito, de um lado está o desejo de ser aceita e pertencer ao mundo daquela que a criou e, do outro, a resistência íntima de quem não consegue destruir o que acha belo. A relação entre mãe e filha se estabelece, assim, tensa e silenciosa.

Visualmente, o curta é um espetáculo de imaginação. Embora em um preto e branco que nem sempre as valorize, as criaturas são impressionantes. Elas surgem ao mesmo tempo encantadoras e ameaçadoras. Thompson evita o excesso de exposição e os monstros são mostrados com a reverência merecida por algo que pertence a um mundo quase sagrado. Ele faz questão de manter viva a ambiguidade sobre aquilo que realmente significam.

O filme também oferece a sua leitura do matriarcado, explorando como a tradição é preservada por mulheres que, ao transmitirem suas regras, perpetuam estruturas de controle e poder. Selma não é uma vilã, mas alguém moldada por um sistema que ela aprendeu a respeitar e reproduzir. Sua relação com Em, como toda relação de mãe e filha, está cheia de expectativa. No caso, ela quer de que a menina cumpra o papel que lhe foi destinado, e a tensão nasce justamente da recusa silenciosa da garota em seguir o caminho traçado.

Em & Selma Go Griffin Hunting é um curta que se equilibra entre o terror poético e a fantasia sombria, usando o mito como espelho de conflitos muito reais sobre maternidade, identidade, tradição e liberdade. Em apenas 18 minutos, Thompson cria um universo que poderia facilmente se expandir, mas que funciona plenamente na força de sua concisão.

Um grande momento
A escolha final

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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