- Gênero: Animação
- Direção: Charise Castro Smith, Jared Bush, Byron Howard
- Roteiro: Jared Bush, Byron Howard, Charise Castro Smith, Jason Hand, Nancy Kruse, Lin-Manuel Miranda
- Duração: 99 minutos
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Bem-vindo à família Madrigal.
A mais nova animação da Disney, Encanto, com suas cores, músicas e latinidade, leva a um lugar muito conhecido, o não se sentir especial dentro do lugar onde se está mais seguro. É assim que Mirabel se vê em meio a tantas pessoas incríveis, com qualidades que aquela a quem quer impressionar idolatra, mas ela não tem. Como boa fantasia, o filme opera sempre na chave da metáfora, a irmã bela e perfeita, a irmã forte que pode fazer qualquer serviço, o primo que pode ser quem quiser, a prima que sabe tudo que está acontecendo, a tia que controla o clima, e ela que se enxerga como alguém que não pode nada, a não ser tentar ajudar.
Para justificar o sentimento de Mirabel, Encanto tem uma simbologia forte, que destaca cada uma das qualidades com efeitos, das evidentes alergias do pai que somem de repente com as deliciosas comidas da mãe ao multicolorido mar de flores que cobre o lugar logo na primeira canção do filme. Ligado nessa interpretação da protagonista, o roteiro vai desvendando a figura da avó, dessa relação e dos tais poderes mágicos. Além da família, há um outro viés no filme: o político. Se a família gira em torno da matriarca, há toda uma cidade que gira em torno dos Madrigal.
Há muitos caminhos e especificidades que fazem a animação merecer uma atenção a mais. O partir de uma Colômbia campesina dividida em um período de guerra civil — momento tão específico, mas que poderia se traduzir em outros tantos correlatos da América Latina, quando muitas mulheres também se viram de repente sozinhas com suas famílias — é um deles. Esta marca determina a personalidade de poder e força da Abuela Alma, uma personagem de expressão inesperada para a Disney que, sem dúvida, ganha muito por toda a história contar com a condução de Charise Castro Smith, ainda que acompanhada de Jared Bush e Byron Howard. Sim, existe uma tentativa de modernização e adequação nos últimos tempos, mas nada que ultrapasse certos limites.
Para completar, se o olhar para eventos latino-americanos e caribenhos, que provavelmente venha da participação dela enquanto descendente de cubanos e de Lin-Manuel Miranda de porto-riquenhos na branca, estadunidense e tradicional equipe de roteiro, é inovadora, a técnica não nega a assinatura. Com texturas cada vez mais impressionantes e tão próximas do real, há muito cuidado nos detalhes de ambientação e figurino de Encanto. Casita é uma atração à parte, com espaço para que os desenhistas exerçam toda sua criatividade nos quartos, em especial o multicolorido de Antônio e o monocromático de Bruno.
E há as canções, sempre uma aposta alta do estúdio para qualquer longa-metragem. Em Encanto elas são assinadas também pelo prolífero Miranda, que nesse ano também esteve por trás das músicas de A Jornada de Vivo, e é alguém que tem um jeito interessante de tratar de alguns temas em suas letras sendo evidente sem ser agressivo e tendo uma marca latina bem marcante, o que aqui seria inescapável.
Assim, Encanto, mesmo que tenha uma virada apressada e facilitada pela complexidade do conflito por trás da metáfora construída, é, com todas as suas cores e músicas, um filme que contagia e interessa. Uma animação que dá alguns passos além com sua magia e acende o interesse por novas histórias, com Mirabel e Alma em um conflito que está muito além daquele básico que se vê sempre nas muitas histórias de princesas que se repetem e perpetuam.
Um grande momento
Ninguém nunca é bom o bastante