Crítica | Streaming e VoD

Encontro Fatal

(Fatal Affair, EUA, 2020)

  • Gênero: Suspense
  • Direção: Peter Sullivan
  • Roteiro: Peter Sullivan, Rasheeda Garner, Jeffrey Schenck
  • Elenco: Nia Long, Omar Epps, Stephen Bishop, Aubrey Cleland, Maya Stojan, Kj Smith, Jason-Shane Scott
  • Duração: 89 minutos
  • Nota:

Herdeiro direto dos thrillers dos anos 90 que invadiram os cinemas com desequilibrados que se arvoravam pela vida de alguém e acabavam transformando tudo num inferno, Encontro Fatal não tem absolutamente nada de original ou discreto na sua abordagem para reler esses títulos. Se você cresceu ao redor de Dormindo com o Inimigo, Morando com o Perigo, A Mão que Balança o Berço, Mulher Solteira Procura e afins, e sente falta desse tipo de escapismo diante da tela, esse é o programa perfeito para te entreter. Como eu sempre digo, se você precisar ver um filme ruim, que seja um suspense; esse é o único gênero que, ainda péssimo, entretém e diverte.

Peter Sullivan é um diretor de filmes para TV que já tinha entregue um longa igualmente parecido em mediocridade ano passado para a Netflix, Obsessão Secreta, e dá para perceber que tanto o canal de streaming estava disposta a investir nesse produto raso para consumo sem maiores exigências, quanto ele não terá qualquer problema em fornecer esse material ordinário. Aparentemente há público para consumir esses longas sem ambição e, numa madrugada gelada, cai bem se deixar levar por emoções muito baratas como as fornecidas aqui. Se você comprar esse pacote sabendo que tipo de conteúdo encontrará, o aborrecimento é menor e a diversão até pode ocorrer.

Encontro Fatal (2020) Netflix

É divertido observar que um roteiro tão genérico foi escrito a quatro mãos – além de Sullivan, a novata Rasheeda Garner acompanha na empreitada. Apesar de branco, o diretor está encarregado por um projeto de teor não apenas voltado para o público afro-americano, como provavelmente Rasheeda se encarregou, com muita sutileza, apontar um dado de racismo estrutural no filme que é sua cena mais curiosa e desconcertante. Ao investigar o passado do homem que a stalkeia, a protagonista ouve da única personagem branca do filme que a ex-mulher do homem era a sua cara – bom, o que as duas atrizes tinham em comum era apenas o fato de ambas serem negras. Se o filme investisse mais nessa abordagem, o resultado seria superior.

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Ao invés disso, há uma tentativa ininterrupta de reproduzir padrões de filmes que tinham o frescor que aqui inexiste. O próprio público afro-americano vinha tendo uma oferta de produtos com esse mesmo teor (Obsessiva e O Vizinho, entre eles) sempre com qualidade superior, e sem uma tentativa desesperada de emular um conceito sem propor uma configuração imagética com alguma substância. Sem cuidar do material filmado, Sullivan só registra as cenas sem uma busca mínima por entendimento estético, com uma montagem que só prejudica ainda mais o material, ao sugerir com muita obviedade o encadeamento de planos em signos do suspense bem pobres.

Encontro Fatal (2020) Netflix

A dupla de protagonistas é uma decepção. Tanto Nia Long quanto Omar Epps nos foram apresentados muito jovens praticamente no mesmo período e, apesar de promissores, nunca avançaram muito. Ela surgiu na premiada estreia de John Singleton Boyz’n’theHood; ele, em Juice, ao lado de Tupac Shakur, e quase 30 anos depois percebemos que nenhum dos dois, apesar do talento que os lançou, conseguiu sair do gueto onde foram enclausurados pela indústria. No filme, esse talento inicial não há nem vestígio, mas vendo o projeto como todo, é compreensível que nenhum dos dois – ou qualquer outro ator – tenha se empolgado para ir além de reproduzir suas falas.

Com os clichês saltando do roteiro para direção, e cada um dos dos psicopatas dos anos 1990 servindo de inspiração para Encontro Fatal, o vazio de ideias frescas não impede o filme de divertir, mesmo que da forma avessa à pretendida. Com um sem número de desfechos não-explicados, uma absoluta falta de aprofundamento em todas as suas questões (que nem conseguem virar questões, a bem da verdade), nos resta acompanhar essa narrativa matando todas as viradas e rindo de um filme que nem tenta fugir do piloto automático.

Um Grande Momento
“Ela é a sua cara”

Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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