Crítica | Streaming e VoDMostra SP

Eu Matei a Minha Mãe

(J’ai tué ma mère, CAN, 2009)

33ª Mostra Internacional de CinemaSe existe algo que sempre vai render boas histórias é a relação de pais e filhos. Entre as influências, os medos, as falhas e os acertos há muita coisa não dita e um absurdo de sentimentos. Na adolescência, os hormônios a flor da pele podem deixar o dia-a-dia ainda mais tumultuado e idas e vindas entre o amor e o ódio, mais constantes.

“Eu Matei a Minha Mãe” é o retrato da relação de uma mãe e um filho, neste momento de vida, feito por alguém que acabara de viver aquilo tudo. Xavier Dolan, com seus 20 anos, mistura a ficção e alguma coisa de sua própria história recém-vivida e oferece ao público uma viagem interessante.

Apoie o Cenas

Claro que a pouca idade e a inexperiência aparecem logo nos primeiros momentos e incomodam, mas o filme é corajoso e resolve se assumir como um trabalho de experimentação antes de qualquer outra coisa.

O adolescente em questão, Hubert, tem 16 anos e não vê a hora de completar a maioridade e receber sua parte na herança que um dos avós lhe deixou. Tão criativo quanto irritante, ele passa os dias em guerra com a mãe separada e completamente diferente dele.

Entre uma briga e outra, Hubert grava depoimentos sobre seus sentimentos, encontra-se com o namorado, fica amigo da professora e pinta paredes.

Um ponto interessante do filme é que vemos tudo sob o olhar do jovem. Sua mãe é cafona, não sabe se vestir, tem amigas estranhas, não o escuta e faz tudo para provocá-lo. Seus amigos também sempre têm mais sorte e vivem em lares felizes e sem problemas, diferente dele.

Chantale, a mãe, é um resultado de todas as queixas e grosserias que filhos costumam fazer com a mãe na adolescência e Hubert, por outro lado, é mal educado e mimado, mas que pela deformada ótica da puberdade se vê comoum pobre coitado, sempre injustiçado.

O roteiro interessante, porém, não conquista todo mundo e muito menos a estética de Dolan, que inventa enquadramentos e tenta brincar com algumas convenções do cinema. A conversa da dupla no jantar, sem o quadro tradicional e com muita esquerda e direita, é um exemplo disso.

A atuação do diretor como o protagonista do filme, também não convence os mais radicais, embora na verdade não comprometa em nada. Anne Dorval, que vive a mãe, por outro lado, agrada a todos.

Entre falhas e acertos, “Eu Matei a Minha Mãe” se diferencia de outros produzidos sobre a juventude no último ano, por ser mais corajoso em estrutura e em visual e por tratar de algo tão presente na vida das pessoas.

Afinal de contas, quem é que nunca teve problemas com a mãe?

Um Grande Momento

A mãe vai ao colégio.

Links

Drama
Direção: Xavier Dolan
Elenco: Xavier Dolan, Anne Dorval, François Arnaud, Suzanne Clément, Niels Schneider, Patricia Tulasne, Monique Spaziani
Roteiro: Xavier Dolan
Duração: 96 min.
Minha nota: 7/10

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Botão Voltar ao topo