- Gênero: Horror
- Direção: Alejandro Hidalgo
- Roteiro: Santiago Fernández Calvete, Alejandro Hidalgo
- Elenco: María Gabriela de Faría, Joseph Marcell, Will Beinbrink, Raquel Rojas, Irán Castillo, Alfredo Herrera, Hector Kotsifakis
- Duração: 98 minutos
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A essa altura, achamos que todos os aspectos narrativos e visuais se esgotaram acerca do exorcismo, certo? Há 50 anos explorando o gênero, o cinema já escanteou o assunto, que nem de longe hoje tem o requinte que um dia William Friedkin deu a O Exorcista, chegando bem perto de ganhar o Oscar de melhor filme. Meio século se passou e todo mundo já rodou uma história sobre o assunto em Hollywood, e a fonte parece inesgotável – já a imaginação, essa sim se esgotou há muitos anos. Estreia do cinema, esse novo Exorcismo Sagrado pode até não inovar no que tem para se propor esteticamente, mas em roteiro tem algo acontecendo de diferente ali. Não dá pra negar ausência de ambição ao filme, pelo que tange seus personagens principalmente.
O filme é uma coprodução mexicana dirigida, produzida e escrita por Alejandro Hidalgo, ambientada no país e que, de cara, já tenta mostrar ao que veio, quando na primeira cena, um padre numa sessão exorcista transa com a exorcizada depois que o demônio em questão passa para o corpo dele. As preliminares do ato são realizadas com um grau de tensão sexual raro de se ver envolvendo um religioso consagrado (ao menos fora do cinema pornô), e mesmo os beijos trocados são muito sensuais. Nesse exato momento, fica claro que o negócio pode nunca sair de um raio de interesse mediano, mas que seu autor assistiu muita coisa do gênero, reproduziu um tanto de sustos, mas tinha a intenção de mexer com certos dogmas e intenções combalidas.
Dali pra frente, o filme intercala momentos constrangedores com outros interessantes, porque a salada que se cria tem sabor pouco naturalizado, na verdade. Os vetores de terror não são nada novos e originais, pelo contrário, estão inseridos nos mesmos contextos se sempre, com as situações envolvendo possessão tendo algum diferencial pelo dilema que, por fim, se desenrola. Mas é um produto calcado em momentos de jump scare sem qualquer medo de parecer exploratório. É um título pronto para o público que curte esse tipo de cinema, emoções baratas e taquicardia colocada a prova, ainda que vez por outra funcione – se liguem no Jesus que o filme apresenta, uma figura graficamente muito poderosa e potencialmente instigante.
Lá pelas tantas, o filme apresenta seu ponto de interesse, sua curva narrativa, e aí não só o título se justifica como a produção ganha uma camada que eu não imaginava que seria utilizada, ou mesmo que já tenha sido antes. É quando percebemos que o demônio possessor é um enviado direto do “dono do porão”, enquanto o padre Peter está encorporado direto pelo “Pai de Todos” – sim, é uma briga direta entre Deus e o Diabo, sem terra de sol. E no meio dos processos, um começa a ameaçar o outro, pedir pela saída imediata de seus respectivos “cavalos”, e cobrar dívidas antigas, incluindo novos acordos com consequências inimagináveis. Parece tudo muito surreal, o filme pega uma carona no visual da novela Olho por Olho (aquela dos anos 90, com raios saindo dos olhos, em vermelho ou azul), mas não é que de alguma forma meio bagaceira o negócio funciona?
Não adianta muito procurar inovações de linguagem ou provocações estéticas, uma narrativa cheia de meandros filosóficos ou um elenco treinado por Lee Strasberg, na verdade quase se trata do oposto disso tudo. A proposta é procurar a maior quantidade possível de público, e ancorar nessa ideia umas picardias que são meio adolescentes, meio despirocadas. Não há uma moldura que eleve o material proposto, mas nem precisa chafurdar muito no que é apresentado para encontrar uns pontos de interesse. Além do supracitado Jesus vagando por um México rural, temos também uma freira demoníaca de visual bem bacana e que garante alguma diversão, e a horda de possuídas em uma prisão feminina que mais parecem um grupo de zumbis modernos.
Nessa toada meio zoada, meio zoeira, é que Exorcismo Sagrado assusta, faz gargalhar, e diverte o público ao tentar alimentar elementos em um subgênero cansado. Não ser longo, não ser pretensioso, ter muita cara de pau e um ritmo bem intenso contribuem para chegar ao final da produção com um saldo positivo dentro do saldo negativo; será que isso faz sentido? Bom, se não fizer também, é mais um botão que o título terá que lidar e aprender a apertar. O moço Hidalgo, um baita de um corajoso, quer mais é que o público sacaneie tudo junto com ele.
Um grande momento
A primeira aparição de Jesus