Crítica | Outras metragens

Extratos

(Extratos, BRA, 2019)

  • Gênero: Documentário
  • Direção: Sinai Sganzerla
  • Roteiro: Sinai Sganzerla
  • Duração: 7 minutos
  • Nota:

Extratos resgata imagens familiares de arquivo filmadas por Rogério Sganzerla e protagonizadas por Helena Ignez, que também narra o filme. O curta-metragem conta uma história de amor, esperança, exílio e retorno. A sensibilidade de Sinai Sganzerla é fundamental para a reconstrução dessa memória e pelo novo encaminhamento que dá ao resgate.

As imagens do passado encontram uma significância dolorida no nosso presente. Se ali o casal Helena Ignez e Sganzerla deixava o país para fugir de tempos horríveis, que “tiravam seu corpo fora da existência” e explorava um mundo desconhecido, indo de Londres a Marrocos e retornando ao Brasil, em Salvador, reconhece-se aquele lugar de onde fogem.

A reedição das imagens reflete a reedição de uma sombra que se instalou sobre o país por 21 anos e agora começa a se apresentar na ignorância e obscurantismo, na restrição a liberdades individuais, na perseguição e corte na cultura, na incitação a uma polaridade nociva e nada construtiva. Sinai provoca essa conexão mas sem se entregar ao pessimismo que é tão tentador hoje em dia e que causa a uma apatia social quase inexplicável.

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Há beleza no modo como ela trabalha com suas recordações, usando textura, luz e cores para uni-las, e como encaminha o espectador ao desfecho, de volta ao Brasil, com os tomadas de Helena grávida. Há amor e, principalmente, há esperança. O mundo não para diante de seus muitos obstáculos e uma nova vida sempre está chegando.

Com um visual belo e magnético, embalado por um envolvente conjunto de canções e noturnos, Extratos conforta e traz um alento àqueles que se entregam à viagem. O passado pode até se repetir, mas, com amor, sempre vai virar passado de novo.

Um Grande Momento:
Grávida.

[19ª Goiânia Mostra Curtas]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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