- Gênero: Drama
- Direção: Dominik Graf
- Roteiro: Constantin Lieb, Dominik Graf
- Elenco: Tom Schilling, Albrecht Schuch, Saskia Rosendahl, Michael Wittenborn, Petra Kalkutschke, Elmar Gutmann, Aljoscha Stadelmann, Anne Bennent, Meret Becker, Eva Medusa Gühne
- Duração: 176 minutos
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Presente e passado. O que é e o que já foi. Em um plano único cruzamos os nossos dias para chegar àquele tempo que antecede a chegada do pior ao poder na Alemanha (e não apenas ali). Em Fabian – O Mundo Está Acabando, adaptação do romance “Fabian, the story of a moralist”, de Erich Kästner, um momento específico serve bem para outro e o diretor Dominik Graf faz questão de destacar isso, por vezes de maneira sutil, por vezes de maneira evidente. Há um jogo frenético nas imagens, um caos dos tempos pós-crash e pré-opressão. As imagens estão perto e longe, são escuras e claras, falta padrão e tudo é incongruente.
O longa, em suas noitadas, que apresentam Fabian e Labude, os dois amigos que virão como os dois pontos antagonistas, montam uma sociedade de corpos que não se adequam ao esquema dos capitalistas que põem em cheque a socialdemocracia, ao mar de desempregados e à crise que levou ao resultado das eleições de 1932. Nada é evidente ou didático. São imagens, discussões, contratos que surgem no sexo casual teatralizado ou o bordel improvisado onde as atrações são rejeitadadas e o bar funciona ao gosto do freguês que dizem o que precisa ser dito. As figuras também são facilmente identificáveis: o que tem e se revolta bradando de longe, e o que, em seu moralismo antiquado, segue alienado, mesmo que se irmanem nas crenças sociais.
Na adaptação de uma obra complexa, depois de um começo frenético e extasiante, que conquista a cada nova experimentação imagética e sensorial, vai se adequando à narrativa mais tranquila após o encontro com Cornélia, aquela que mudaria a vida de Fabian e a sua relação com aquele mundo mas não o modo de encarar a vida. A narração, descritiva ou não, guia o caminho e ajuda a definir as personalidades nesses trajetos, anuncia novos encontros e sujeitos, outras mudanças dessa derrocada que se pronuncia frente a inércia.
Se há mais calma naquilo que se vê, o que se escuta segue intenso em diálogos que seguem ansiosos no prenúncio da guerra e na derrocada de uma sociedade, que odeia as mulheres e que vangloria aqueles que já têm demais. Os que não cabem nesses lugares vão sucumbindo a pequenos e espremidos espaços, vão perdendo aquilo que os faz serem maiores e ignorando sinais claros que estão espalhados pelos filme, uns que remetem ao óbvio para os que conhecem o futuro e outros que só se revelarão ao final da projeção.
Graf está falando do então, do específico Fabian, mas não quer falar só dele, pois ele é tantas pessoas que não conseguem olhar para o que está a sua volta. A roda da história, cruel, não deixa de se repetir. Na saída do túnel do metrô não se encontra o caminho para Terceiro Reich, mas algo que está muito perto disso e é o desconhecimento e o medo de falar sobre isso — em outros embates entre tantos Labutes e suas teses e pensamentos esquerdistas, e Fabians com suas tendências moralistas e crenças hipócritas na incapacidade de decência — que ela revive.
Ao fim e ao cabo, resta a certeza de que não dá para se espantar com a força da correnteza. É preciso aprender a nadar para fugir e lutar contra ela.
Um grande momento
Saindo do set