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Família Submersa

(Familia sumergida, ARG/NOR/ALE/BRA, 2018)
Drama
Direção: María Alche
Elenco: Mercedes Morán, Esteban Bigliardi, Marcelo Subiotto, Ia Arteta, Laila Maltz, Federico Sack, Diego Velázquez, Claudia Cantero
Roteiro: María Alche
Duração: 91 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

A morte chega para alguém, mas a vida continua para os outros. Família Submersa é sobre o sobreviver à ausência de Marcela. Ela acabou de perder sua irmã Rina, mas tem todo um cotidiano que não cessa perante a falta que sente. Sua individualidade é invadida por outras individualidades que têm um outro tempo e um outro modo de lidar com a perda. Pois a vida é mesmo essa comunhão de existências e sentimentos que não param de se entrecortar.

Entre os afazeres de Marcela está o desmontar do apartamento de Rina, o encerrar daquela existência física no mundo que sobrevive à morte. María Alche, em sua estreia em longas-metragens após vários trabalhos como atriz, consegue traduzir estes sentimentos em imagens, seja na contraluz, no escuro de seus interiores ou na própria luz de cenas em externas; nos ambientes restritos de espaços tomados por elementos que não lhe pertencem e que são, ao mesmo tempo, o esvaziamento de outro local; na proximidade entre os personagens em quadros que transmitem a intimidade ou o distanciamento em reuniões programadas.

Alche ainda tem ao seu favor a atuação entregue de Mercedes Morán como Marcela. A atriz transmite, em expressões sutis, sentimentos inesperados e precisos sobre essa perda de referência e a própria vida que insiste em seguir como se nada tivesse acontecido, exigindo sua participação.

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Família Submersa assume a velocidade dos sentimentos que retrata, dando espaço aos eventos e aos personagens. Ao mesmo tempo em que assume o marasmo de forma funcional e adequada, perde-se em repetições que comprometem a opção. Mas, ainda assim, tem tanto a explorar em seu contexto que sobrevive aos tropeços pontuais.

O luto é tratado de maneira criativa ao trazer a vida – em todas as suas formas – de maneira muito incisiva. Há uma casa, com problemas banais que vão desde a pia de louças sujas até a máquina de lavar roupas que para de funcionar; seus habitantes, entre filhos que brigam, demandam e tentam se afirmar, ou o marido que precisa estar ausente. Em meio à dor, há toda uma vida cotidiana que segue seu fluxo, e na qual a protagonista está inserida. Mais do que isso, há a vida em outras formas, como no aparecimento inesperado de Nacho.

No sentido contrário, estão as lembranças que a ausência é capaz de trazer, como a brincadeira na cortina ou a busca por imagens. E há o retorno de personagens que já não mais habitam aquela existência, como se a morte pudesse fazer com que o passado retornasse de alguma forma, trazendo histórias esquecidas e pessoas que deixaram suas marcas.

Em sua história familiar, Família Submersa acessa o luto como ele é conhecido e, mais, vivenciado. O que se vê na tela é um retrato dessa dor, dessa ausência que ocupa espaços e faz passado e futuro se confundirem em merecimento de dedicação. Sem dúvida, uma estreia segura, que faz algo que muito se tenta, mas nem sempre se consegue: o traduzir em imagens algo tão interior.

Um Grande Momento:
Brincando na cortina.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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