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Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá!

Sopro de juventude

(You Are So Not Invited to My Bat Mitzvah, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Sammi Cohen
  • Roteiro: Alison Peck
  • Elenco: Adam Sandler, Sunny Sandler, Sadie Sandler, Samantha Lorraine, Idina Menzel, Dylan Hoffman, Sarah Sherman, Ido Mosseri, Luiz Guzman, Jackie Sandler
  • Duração: 98 minutos

É tão bom ser surpreendido com um filme, talvez por isso ser tão raro. Ao escolher não ver trailers, nem ler sinopses de qualquer que seja a produção, entro também em um buraco negro de expectativas. O que seria então Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá!? Bom, o que eu sabia é que era um filme protagonizado por meninas que seriam filhas do Adam Sandler, e apesar do astro no elenco, o destaque narrativo seria dado a elas. Como sabemos das origens de Sandler e tirando o próprio título do filme, ficou claro que existiam algumas questões judaicas embutidas. E era só isso. A surpresa começa por perceber que o filme não é exatamente uma comédia juvenil onde o ator é o pai das protagonistas, mas que as meninas em questão são filhas dele na vida real – e que a mãe da família também trabalha no filme. E isso foi percebido por como as meninas têm semelhanças físicas com o pai, porque os créditos mesmo só aparecem no fim do filme. 

Esse é o segundo longa de Sammi Cohen, logo após Crush, e temos alguma noção de que, como uma jovem mulher judia, ela compreendia em absoluto o universo do livro escrito por Fiona Rosenbloom e adaptado por Alison Peck. Sendo exatamente Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá! um movimento na direção dessas meninas em plena puberdade, encontrando sentido no que as constitui de muitas maneiras, um olhar próximo às suas vivências era verdadeiramente necessário aqui. A leitura que o projeto faz da sororidade e suas contradições, da união que se precisa ser acima de tudo, da objetificação feminina aos olhos de um homem, e muitas outras questões são debatidas com muita franqueza sem gerar didatismo ou algum senso de obrigatoriedade. 

Estamos diante, acima de tudo, de um filme que pretende se comunicar com um público amplo, não apenas com a faixa específica de suas protagonistas. Para isso, o filme nos carrega para dentro da relação entre Stacy e Lydia, e da primeira com sua família. São duas meninas judias criadas desde a primeira infância como melhores amigas, mas que às vésperas da cerimônia mais importante de seu início de vida, percebem que diferenças nunca antes deflagradas, vêm à tona para colocá-las em cheque.  Quando invade o tanto de amor que existe entre essa gama de personagens, Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá! solidifica o que estará impresso em roteiro através do tanto de intenções que tais tipos conseguem passar. 

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Além de ter um ritmo exemplar no que elabora seus tempos e em como cada andamento detona os acontecimentos seguintes, Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá! é algo híbrido no que tenta apontar. Ele resgata o valor das comédias românticas dos anos 80 dirigidas por John Hughes, ao mesmo tempo em que tem consciência de que tudo em cena visa estabelecer uma ponte concreta com o nosso tempo. A forma naturalizada com que a união feminina se apresenta, além da sinceridade com o rosto dos de cada ator e atriz na tela. Há coesão emocional em cada novo aspecto apontado pela produção, que é absorvido pelos personagens e devolvido de volta ao espectador com a certeza de que cada cena do filme é um momento de conhecer cada um dos autores em seus personagens. 

Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá! também prova que a simplicidade e até o clichê tem vez, quando é executado com o cuidado e a sagacidade necessárias. Por mais que já tenhamos visto histórias com esse mesmo ponto de partida, e que ultimamente filmes como Oitava Série, Fora de Série e Quase 18 tenham feito tanto sucesso de público e crítica, nunca falta espaço para o esforço genuíno e coletivo. Está na textura conseguida tanto pelas imagens quanto pela qualidade do roteiro, que nos mostra o tanto de esforço que existe para elaborar algo para além de um naturalismo e de um afeto palpável. Cada referência utilizada também serve para identificar onde a produção mira e o que ele efetivamente alcança.

Um dos motivos do sucesso (e da curiosidade) em torno de Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá! é que temos em cena a família Sandler inteira contracenando pela primeira vez. Além de Adam e das filhas Sunny e Sadie, a esposa e mãe das meninas Jackie também está no elenco, e todos estão muito à vontade em seus lugares. Dá pra afirmar com alguma segurança que se trata do melhor filme popular da carreira do ator, que aqui começa a equilibrar seu humor mais rasgado a uma sintonia mais calibrada – ou seja, sua postura é mais comedida, embora muito explícita. Já sua protagonista Sunny é um achado, e junto com Samantha Lorraine formam a alma do filme, que investiga essa cumplicidade entre mulheres e a necessidade de conexão entre elas desde o início da jornada. Delicado e muito divertido, saímos da sessão com a alma lavada de sua doçura. 

Um grande momento

O flagra

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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