Série em Cenas

Assassinato na Casa Branca

Retrato de classe

(The Residence, EUA, 2025)
  • Gênero: Comédia
  • Criador: Paul William Davies
  • Canal: Netflix
  • Elenco: Uzo Aduba, Giancarlo Esposito, Edwina Findley, Molly Griggs, Jason Lee, Ken Marino, AlMitchell, Randall Park, Dan Perrault, Bronson Pinchot, Julieth Restrepo, Mel Rodriguez, Susan Kelechi Watson, Isiah Whitlock Jr., Mary Wiseman
  • Temporadas: 1
  • Duração: 48 minutos

Em Assassinato na Casa Branca, a sede do governo nos EUA deixa de ser símbolo de poder e se transforma em palco de descontrole. O assassinato durante um jantar de Estado é o ponto de partida, mas o mistério é apenas desculpa para expor a estrutura de aparências que sustenta a política. A série criada por Paul William Davies, com produção de Shonda Rhimes, prefere o escárnio à solenidade.

O tom é de sátira, misturando intriga de bastidores, vaidade institucional e humor de situação. Tudo isso filmado como se o luxo fosse uma fantasia frágil prestes a se revelar. Uzo Aduba, como a detetive Cordelia Cupp, conduz a investigação com ironia. Sua presença desmonta o palco armado. Ela vê a sujeira sob o tapete de gala e expõe o poder mascarado de boas maneiras.

O formato segue o modelo whodunnit, mas a série está mais preocupada em falar de privilégio. A Casa Branca é retratada como um organismo dividido entre os de cima e os de baixo, os que servem e os que mandam. O ritmo às vezes vacila, com episódios longos demais e tramas paralelas que se perdem, mas a ideia central resiste: o crime é apenas o reflexo de um sistema acostumado a ignorar suas falhas.

Formalmente, Assassinato na Casa Branca é limpa, clara, quase clínica. A fotografia brilha demais, e essa assepsia combina com o discurso. Afinal de contas, o poder precisa parecer impecável para esconder sua decadência. A trilha leve e a montagem nervosa mantêm o tom de farsa, mesmo quando a série tenta ser séria.

O elenco coadjuvante ajuda a sustentar o jogo. Giancarlo Esposito, Randall Park e Ken Marino equilibram caricatura e desconforto, e todos parecem viver entre o palco e o bastidor, conscientes de que ali ninguém é inocente.

Assim, Assassinato na Casa Branca é um entretenimento bem-feito sobre o eterno jogo das aparências. O mistério é divertido, mas o que importa mesmo é o retrato de uma elite que vive sob suspeita, acreditando que poder é sinônimo de controle. A série lembra, com ironia e charme, que o luxo nem sempre resiste à luz do dia.

Melhor episódio
T01E03: Knives Out

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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