- Gênero: Terror
- Direção: Scott Beck, Bryan Woods
- Roteiro: Scott Beck, Bryan Woods
- Elenco: Hugh Grant, Sophie Thatcher, Chloe East, Topher Grace
- Duração: 111 minutos
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Tem uns minutinhos para conhecer a palavra do Senhor?
Missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias andam geralmente em dupla, com identificações nas roupas e fazem longas jornadas batendo de porta em porta. São seguidores dos ensinamentos e da doutrina de Joseph Smith, fundador da religião mórmon, e sua missão é levar às pessoas a palavra do Senhor. Em Herege, as irmã Barnes e irmã Paxton são duas jovens pregadoras que estão prestes a começar seu itinerário de visitas. Um diálogo inusitado e influenciado por hormônios e pela ingenuidade apresenta as diferenças das duas personagens, uma veterana e outra principiante nas visitas, embora nem tudo seja o que possa parecer.
Algumas das primeiras impressões vão se desfazendo pelo caminho, com novas interações entre elas e encontros randômicos até que as duas cheguem à casa do estranho sr. Reed, onde tudo se estabelecerá. O terror parte do sempre funcional “faça aquilo que evidentemente é uma furada”, e Barnes e Paxton caem na armadilha levando junto com elas o público. Porém, também diferentemente do que possa parecer, há muita coisa ali no longa de Scott Beck e Bryan Woods que interessa. A ideia dos dois, que também assinam o roteiro, de partir desse conhecido tocar da campainha para um questionamento sobre religião e os limites da fé é curiosa e tem alguns lampejos de originalidade.
Centrado em três personagens confinados em um espaço restrito e dependente do debate, o tom teatral se faz presente. Toda a primeira parte, talvez a melhor de Herege, se passa praticamente em um único cômodo e conta com um Hugh Grant inspirado em suas provocações. Além da tensão bem trabalhada no momento, ali se definem as personas, o conflito e o andamento do jogo iniciado. E este é realmente o formato escolhido, tanto pelo maníaco Reed, em suas proposições apologéticas, como pelos diretores. O problema é que, pensando num tabuleiro, as primeiras casas, de teor psicológico e não visual, são as que mais interessam. O jogo vai perdendo a força, embora novos movimentos ainda tenham a capacidade de gerar algum interesse.
Fato é que, mesmo que tenha outras qualidades, é a provocação do longa que atrai. Nada é tão interessante quanto o fato de tratar de algo que está em todo lugar e na vida de todo mundo, de algo com o qual todos têm alguma relação, mesmo que não se queira. Independentemente de como isso será feito e onde isso vai levar, falar sobre versões e derivações religiosas, os limites da fé e a religião como ferramenta de controle aproxima a narrativa. Com a identificação gera concordâncias e discordâncias. Porém, embora muito bem provocado, tudo isso se esvaziando até chegar à banalidade de signos – infelizmente esperados – e a explicações excessivas. Quando se perde e chega no lugar-comum de ações e eventos de tantos outros filmes que pouco ou nada trazem, Herege ainda entretém e gera ansiedade com suas pegadinhas, armadilhas e possibilidades de fuga.
Beck e Woods podem até se atrapalhar na conclusão de seu propósito, mas não deixam de aproveitar os espaços e sabem como usar elementos do gênero. A dupla Sophia Thatcher e Chloe East, com suas diferenças bem marcadas e o medo em comum, funciona muito bem. Junto com Grant, que alterna entre o charme e a loucura, é fundamental para que o filme funcione. Já a trilha de Chris Bacon é uma atração à parte. Desse modo, é difícil resistir a Herege. Mesmo que sua proposta se perca, o que foi despertado, valeu. E quando isso não está mais lá, ainda tem o que entretenha.
Um grande momento
Poligamia