Crítica | Outras metragensMostra de Tiradentes

Estado Itinerante

(Estado Itinerante, BRA, 2016)
Drama
Direção: Ana Carolina Soares
Elenco: Lira Ribas, Maria Aparecida, Daniela Souza, Diane Rodrigues e Cristal Lopez
Roteiro: Ana Carolina Soares
Duração: 25 min.
Nota: 10 ★★★★★★★★★★

O mundo que vemos é aquele que conseguimos enxergar. O curta-metragem Estado Itinerante, com muita atenção à técnica e levando em consideração a empatia da própria diretora, consegue se comunicar de uma maneira única com o que se passa dentro de Vivi, sua protagonista.

Recém-contratada de uma empresa de ônibus, ela é apresentada ao público tentando dar um jeito de não voltar para casa. Com sua jornada, cheia de detalhes e sutilezas, entende-se o porquê. A condição do trabalho como cobradora e seu conflito pessoal casam muito bem.

Além de dar conta da inadequação daquela mulher com o espaço que seria seu, a diretora Ana Carolina Soares faz com que o mundo ao redor de Vivi seja visto como a própria personagem enxergaria. Essa transmissão de um terceiro modo de ver – que não o presumido do público – acontece de forma muito orgânica e quase imperceptível. De uma hora para a outra, o que se constrói na tela é o mundo destruído daquela mulher. Todos os personagens são construídos segundo a confiança ou desconfiança de Vivi.

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A narrativa, concisa e contida, não precisa apelar, em momento nenhum, para causar o desconforto ou chegar no ponto que gostaria. Há tempo para contemplação, reflexão e criação de um clima de incerteza e suspense. Cada segundo é realizado de maneira precisa, mesmo que a execução não esteja evidente na tela.

Em seu conjunto, vários momentos destacam-se pelos sentimentos que despertam. Em meio a tanta tensão, a catarse da protagonista acontece em uma cena memorável, dessas que ficam na cabeça de quem assiste ao filme por vários dias.

Quase uma unanimidade nos festivais onde esteve, Estado Itinerante é a conjunção de vários fatores positivos: tem uma diretora talentosa, um roteiro interessante, uma noção muito grande do que é fazer cinema e uma atriz que supera todas as expectativas.

Aliás, entre todos os acertos, o filme deve muito de seu sucesso a Lira Ribas, ex-jogadora de vôlei que depois de uma temporada jogando na Grécia decidiu se dedicar à atuação. Sorte do teatro e do cinema. E sorte de quem assiste ao filme, pois consegue perceber um encontro daqueles que ninguém esperava presenciar para tratar de um tema extremamente necessário.

Um Grande Momento:
Vivi e Cristal Lopez no bar.

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[20ª Mostra de Cinema de Tiradentes]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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