- Gênero: Suspense
- Direção: John Swab
- Roteiro: John Swab
- Elenco: Josh Hartnett, Frank Grillo, Melissa Leo, Sofia Hublitz, George Carroll, William Forsythe, Deborah Ann Woll, Mark Boone Junior, Beau Knapp, Nicholas Cirillo, Ben Hall, Bruce Davis
- Duração: 111 minutos
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Há uma sensação estranha que percorre toda a duração de Ida Red: O Preço da Liberdade, estreia de hoje do Telecine. O filme corre por uma estrada que não é recente, como uma linha do tempo narrativa que está escondida de nós. Existe todo um período existente pretérito ao que acompanhamos que é constantemente comentado, rememorado e que não temos acesso, enquanto imagem. Temos acesso a esse tempo através dos relatos de cada personagem, que podem ou não ter vivido nesse passado, mas que levam esses momentos dentro de si. Pois a tal sensação estranha é a de que talvez o filme nos negue eventos importantes demais para que nós, enquanto espectadores, comprássemos aqueles conflitos com mais discernimento, o que acabamos não tendo.
Essa opção do diretor e roteirista John Swab, de recortar o grande arco dramático de uma família amplamente envolvida com o mundo do crime, e nos apresentar apenas uma mínima parte do todo, é corajosa, não podemos negar. Mesmo entre o que foi escolhido para contextualizar há uma espécie de curadoria, porque outros pontos de vista desse universo estão dispostos no cenário geral, mas também não os vemos. Ok, o leitor poderia argumentar que esse tipo de reflexão poderia ser feito em relação a qualquer obra, afinal grande parte das histórias não começam exatamente com o nascimento de alguém para terminar posteriormente com sua passagem. Existe sempre um processo de apurar os fatos para chegar no mais relevante possível da vida de um núcleo, e então convergir essa escolha em material narrativo.
A diferença é que, em Ida Red, o grupo que seguimos é refém desses episódios que não presenciamos, por terem se passado no mínimo 15 anos antes do que estamos assistindo. São episódios definidores da estrutura dessa família, sua construção, a desestruturação que a atividade criminal lhes legou, e a posterior tentativa de reconstrução, em cima de um grupo de mentiras, o que nunca é uma boa base de sustentação. Desde o início fica clara a importância para a narrativa desses eventos trágicos que culminaram no estado de coisas que flagramos, são uma espécie de bússola onde os personagens ainda tentam se guiar. Conhecemos cada um em cena também muito porque observamos cada relação ali com o que aconteceu há mais de uma década, mas que sempre volta a chamar atenção, afinal trata-se de uma família.
Em meio a esse desconforto, existe uma ideia de drama policial sobre uma família em torno de suas atividades de sobrevivência nada usuais. Essa árvore genealógica não pretende servir de exemplo para ninguém entre o que realiza, mas cujos pontos de atrito não deixam a dever se tratar de uma crônica familiar. Onde deveriam entrar os tradicionais almoços de domingo recheados de mágoa, aqui os tipos se aglomeraram em melancolia e falta de confiança, perdendo assim sua capacidade de gerar novos e saudáveis frutos. Pelo contrário, tudo que rege a personagem Ida Red parece vir atravessado de inúmeros retrocessos emocionais entre seus pares. Com isso, a jovem Darla – a mais nova integrante dos Walker – se sente perdida constantemente, sem entender por completo como seu DNA a une a um grupo de pessoas absolutamente disfuncional, mas que a ama.
O elenco de Ida Red nos ajuda a perceber, no entanto, alguns deslizes com um ou outro personagem, e o caso mais pertinente é o de William Forsythe. Histórico vilão dos anos 1990, sempre ligado a personagens do lado errado da lei, aqui ele interpreta um homem acima de qualquer suspeita, porém com pouco tempo em cena, acaba nos causando saudade, justamente por essa oportunidade rara. A jovem Sofia Hublitz também se sai muito bem com uma personagem excelente, mas igualmente não tem o espaço merecido, que é dado, por exemplo, à Frank Grillo repetir sua mesma performance de sempre. Já uma grande atriz como Melissa Leo, embora tenha a personagem título, entende-se seu tamanho reduzido, e com o pouco que tem, ela compreende cada fagulha de motivação de sua Ida, alguém que sabidamente é descrita como “uma mulher e tanto”.
Talvez fosse motivo de alegria, ao menos para seu autor, cobrarmos mais tempo de filme a Ida Red, mas se a falta de espaço para alguns personagens e o excesso para outros demonstra o desequilíbrio da obra, isso também é captado para o tempo que a produção escolheu colocar em cena. Não sentimos falta de flashbacks, ou de lembranças, ou de um futuro para quem está em cena, mas fica o sentimento de que duas horas não eram suficientes para contar a história dessas gerações de Walkers, que tanto pra trás quanto pra frente, parecem continuar fazendo jus ao sobrenome.
Um grande momento
O julgamento da condicional