Crítica | Streaming e VoD

The Last Days of American Crime

(The Last Days of American Crime, EUA, 2020)

  • Gênero: Ação
  • Direção: Olivier Megaton
  • Roteiro: Rick Remender (HQ), Karl Gajdusek, Greg Tocchini
  • Elenco: Michael Pitt, Sharlto Copley, Edgar Ramírez, Anna Brewster, Carel Nel, Daniel Fox, Sean Cameron Michael, Tamer Burjaq
  • Duração: 148 minutos
  • Nota:

Esse título pomposo do novo filme de Olivier Megaton é oriundo da adaptação de uma graphic novel que se auto intitula radical já nos créditos de abertura. Sua duração (2h20) também vaza grandiosidade e importância, e seu excesso de tramas e subtramas coadjuvantes, com um número de personagens crescentes e imersas em verdades absolutas capazes de mover grandes destinos em tela, vão deixando claro cada vez mais de que se trata de um projeto onde algo deu errado. Ou as ambições agigantadas deveriam ser mais evidenciadas pela constituição técnica, ou faltou uma dose de ironia a The Last Days of American Crime, obra muito fechada em suas dimensões que não percebe que precisaria de liberdade.

Engraçado isso ter acontecido justamente com Megaton, um diretor experimentado de continuações de franquias nada pretensiosas como Busca Implacável e Carga Explosiva, e adentrar um universo gráfico com excesso de zelo e protecionismo, raras vezes rende resultados longe do que vemos aqui, onde uma seriedade latente passeia por todas as cenas e transforma o filme uma liturgia estranha em busca de uma importância vazia. Partindo de uma fantasia futurista crítica e com certo teor alegórico alto e bem-vindo, a adaptação se perde ao não tentar vender aquela ilusão e suas consequências, mas em buscar um excesso de veracidade em uma ficção científica.

Michael Pitt em The Last Days of American Crime (2020) - Netflix

A violência mostrada não é tão alterada quanto o filme gostaria de aparentar; lá e cá algo de sangue a mais, porém nada que minimamente choque ou passe perto do excesso, pelo contrário, é tudo muito pontual e sem exploração. Todo o demais conteúdo que poderia colocar The Last Days of American Crime em um lugar de real ousadia, tais como conteúdo sexual e linguagem, passam igualmente e ainda mais longe de algo que um Scorsese já não tenha ido muito além. Logo, a tal experiência radical deve ter começado e terminado nas cercanias do próprio material original, e a produção da Netflix no máximo viu uma sombra pálida de tal lugar.

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Um personagem em cena é o guardião dessa anarquia que o filme apregoa para si. Vivido por Michael Pitt, Kevin Cash tem uma amoralidade embutida que faria bem aos conceitos do filme de retratar um futuro onde os crime extrapolou todos os padrões e só resta ao governo criar um sinal mental de desligamento de pulsões criminosas em indivíduos previamente fichados. Como investiga muito pouco desse universo prévio, apostando em constantes telejornais que didaticamente explicitem o processo prévio e posterior à medida que pauta a produção, cabe a Kevin ser o porta-voz dessa ensandecida sociedade que o filme retrata sem aprofundamento. Com isso, o espelho social com o hoje nunca deixa de estar embaçado.

Sharlto Copley em The Last Days of American Crime (2020) - Netflix

Como o personagem está perdido numa narrativa arrastada, didática e pouco ágil, The Last Days of American Crime perde a oportunidade de debater (imagética ou narrativamente) sua premissa tão instigante, que remete a ideias que Philip K. Dick apresentou em suas obras, tais como a que deu origem a Minority Report. Do jeito que foi apresentado, a produção não se sustenta como diversão ligeira escapista nem como reflexivo mote social. O protagonista Egdar Ramirez passeia em cena tentando dar rumo a um filme pouco inspirado em todos os seus intentos. Nada muito original está posto em cena, e sim inúmeros toques bebidos de outras obras, não tendo qualquer personalidade pra chamar de sua.

Ao analisar à luz da filmografia de Oliver Megaton, a insipiência de The Last Days of American Crime talvez encontre maior entendimento, tendo em vista que sua principal característica é não ter nenhuma característica. Reproduzir cenas aleatórias, entreter durante (longas) mais de 2 h e enfileirar personagens injustificados (Sharlto Copley, astro de Distrito 9, faz o quê no filme?) não é o bastante para prender o público – uma pena, porque a matéria prima onde bebe o filme era bastante promissora. A sombra do que poderia ter sido fica apenas na nossa imaginação.

Um Grande Momento:
Não tem.

Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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