- Gênero: Drama
- Direção: Florian Zeller
- Roteiro: Florian Zeller, Christopher Hampton
- Elenco: Hugh Jackman, Zen McGrath, Laura Dern, Vanessa Kirby, Anthony Hopkins, George Potts, William, Felix e Max Goddard
- Duração: 120 minutos
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Meu Pai foi o cartão de visitas do dramaturgo Florian Zeller como realizador de cinema, e de cara ele ganhou dois merecidos Oscars: para si como roteirista, e para a impressionante interpretação de Anthony Hopkins no papel título. Parecia nascer um novo prodígio das telas, com uma meta de dar continuidade à sua trilogia teatral em novas adaptações cinematográficas, e essa semana estreia seu segundo filme sobre crônicas familiares, Um Filho. Todas as expectativas criadas para que encontrássemos novas camadas de rigor na mise-en-scene, novo encontro com um texto formidável, novas interpretações marcantes, tudo isso desce pelo ralo. Não há uma fagulha que seja a unir os dois filmes, nem em sua narrativa nem nas possibilidades de uma possível contínua excelência.
A verdade é que, tudo que fazia do longa anterior uma experiência especial, com camadas de teatro sobrepostas às do cinema transformando o jogo como um todo, aqui é refém de uma banalidade absoluta. Um Filho é um longa qualquer, onde nada de relevante acontece, é dito ou resplandece, e o que vêm à tona é sua textura mediana, sem méritos visíveis. Estamos diante de um drama ambientado entre cinco atores, todos membros de uma mesma família unida por graves problemas e suas consequências psicológicas a um passado de abandono, que se reflete em um presente de reprodução das mesmas ações. Na superfície, temos um produto de desenvolvimento básico, sem muita reverberação de qualquer ordem.
![Um Filho](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2023/03/Um-Filho_interno1-1024x683.jpg)
Mesmo que não haja comparação, ainda assim Um Filho é um filme estéril. Nem na zona do ‘teatro filmado’ o filme pode ser jogado, ainda que se passe essencialmente entre quatro paredes, mesmo que essas paredes sempre mudem (são diversos cenários); não há nem mesmo o charme, muitas vezes engessado, dessa estrutura. Não há personalidade ali, e para um filme entrar nesse lugar trancafiado de uma peça, ele precisa exalar pré-disposição ao artifício, que simplesmente não existe. É uma composição inanimada, que obriga seus atores a uma base de complementar fisicamente o que não está no campo espacial, e o que temos em cena é um grupo que, por mais talentoso que seja, não consegue responder a uma falta de empenho que já vem do texto.
Se a ideia é boa quando capturamos a premissa, seu desenvolvimento é raso. São diálogos frios e repletos de didatismo, que vai com todo cuidado explicando sua compleição do início ao fim; não há o que conjecturar, porque todo o trabalho é desenvolvido pelo texto, que destrincha todas as situações, até só restar a frustração. A quem se interessar apenas por assistir a exposição de linhas de diálogos, que não representam qualquer desafio para o grupo de atores, e uma direção que também prima pelos tons pastéis, Um Filho é um programa que talvez agrade. O espectador que procurar algo além do mínimo de uma obra em lugar de surpreender, aqui a expectativa gera até desconforto diante da quantidade de oportunidades desperdiçadas.
![Um Filho](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2023/03/Um-Filho_interno2-1024x682.jpg)
O elenco, então, não há o que fazer mesmo. Atrizes vindas de atuações celebradas (respectivamente História de um Casamento e Pieces of a Woman), Laura Dern e Vanessa Kirby parecem ter sido enganadas quanto ao teor do que poderiam apresentar, que é nada de muito representativo. Duas mulheres com talento tão evidente, aqui dispostas a estar em cena, quase que exclusivamente. Hugh Jackman ao menos tem a cena, onde uma catarse acontece; até então, ele vive no mesmo esquema das atrizes, em um compasso de espera de algo que nunca acontece, nem para o grave ou para o agudo. O jovem ator Zen McGrath é verde, e seria dele onde grande parte da exploração poderia ocorrer, mas com um texto tão inábil na hora de promover qualquer coisa, o rapaz não pode ser culpado. Sobra, lógico, Sir Anthony Hopkins, na única cena grandiosa de Um Filho, onde a culpa toda recai sobre seu incomensurável talento, um alívio muito fugaz de força.
Há uma displicência no cuidado com relação a depressão na adolescência, principalmente na forma como o roteiro conduz seu clímax. Não cabe ao espectador escolher uma saída para a obra, e sim aceitar o acordo como ele se apresenta e julgá-lo como tal; pois bem, em uma encruzilhada criada por si mesmo, Um Filho apresenta suas armas finais e ambas são conclusões que prestam claro desserviço ao tema. Fosse feita a escolha que fosse, o resultado seria um desastre do ponto de vista moral, e é o que acontece. O sentimento, ao fim da jornada, é o de cansaço por não conseguir extrair nada além do medíocre dentro do que vemos, mas com a consciência de que nada poderia ser diferente com tudo o que é proposto… e que, no fundo, é quase nada.
Um grande momento
Almoço com o pai