Enquanto Dove surge do gelo, Inkwo for When the Starving Return começa em um silêncio congelado, na vastidão ártica. O mundo já morreu duas vezes, e o que se vê um é um conto de fadas, é um aviso. O curta animado em stop-motion de Amanda Strong, adaptado da graphic novel de Richard Van Camp, carrega uma maldição: os wendigos, espíritos malígnos das florestas que se alimentam dos seres humanos, escapam da terra devastada.
De gênero fluido, Dove está inscrite no tecido da terra, sua conexão com a espiritualidade é marcante e a ancestralidade, evidente. A animação é hipnótica e cada cena evidencia o trabalho elaborado. A paleta fria dos cenários contrasta com os olhos das criaturas que habitam aquele universo. Texturas, ruídos e a trilha se confundem. Há uma sincronia poética entre imagem, som e silêncio.
Inkwo for When the Starving Return é eficiente em sua metáfora ambiental: a fúria dos monstros reflete a a ganância dos homens. Dove aqui não é só a que renasce, é a raiz que resiste, a natureza que não morre. Mesmo na trajetória fantástica, é a espiritualidade indígena, o inkwo do título, que se revela no poder de curar, e na escolha entre matar e salvar.
O curta não quer tratar de tudo e nem se perde em mensagens. Ele suscita a parceira entre espécies, a coragem e a identidade. Inkwo for When the Starving Return é uma fábula visual que se desenrola na chave da sobrevivência. Aqui se compreende que a ancestralidade pode ser uma armadura contra o caos, mas depende de quem está com ela.
Um grande momento
Corra