- Gênero: Drama
- Direção: Antonia Campbell-Hughes
- Roteiro: Antonia Campbell-Hughes
- Elenco: Cosmo Jarvis, Rhys Mannion, Claes Bang, Antonia Campbell-Hughes
- Duração: 92 minutos
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O nada em nós que se reflete na vastidão do mundo. Perdido em uma vida fria, metódica e marcada pela ausência e a distância, Hamish busca alguma conexão. Presente trágico e passado traumático se misturam em It Is In Us All, interessante primeira direção em longas da atriz Antonia Campbel-Hughes, de 3096 Dias de Cativeiro, que encontra em uma pequena cidade ao norte da Irlanda o ambiente perfeito não para começos e fins, mas para descobertas e escolhas, de antes e de agora. Para decisões e prosseguimentos.
Logo de cara, em uma boa atuação de Cosmo Jarvis (de Lady Macbeth), nos é apresentado um personagem fragmentado que não consegue encontrar seu lugar no mundo. Não há habilidade ou interesse na interação com a atendente da companhia de locação de carros, pelo contrário, há desdém, e é muito clara a barreira na relação com o pai, contactado pela secretária em uma ligação que cruza o planeta. São falas incompletas, impessoais, travadas, que tocam em um afeto que está nas palavras, mas não se faz realmente presente. Ali há um cuidado com o roteiro, em sutilezas de uma ligação que não se conclui, no encontro que trará todo o conflito, na ambientação do espectador, que, infelizmente, vai se perdendo ao longo do filme.
O tempo é a marca principal de It Is In Us All. É com ele que a diretora trabalha toda a duração do filme, distendendo-o ao limite, como uma forma de integração do espaço ao próprio cotidiano desconhecido, a mudança de paradigma. As quebras vem em forma de contato, junto com Evan (Water Under the Bridger) e seus dilemas, seus movimentos e conflitos, assim como sua simples presença, trazem o descompasso. E é curioso o sentimento, porque a fisicalidade diz muito quando se pensa no personagem. Se Hamish é sempre muito pequeno diante das paisagens que o engolem, as performances do adolescente são sempre grandes demais até para a enormidade daquilo que o cerca.
Nos contrastes entre os dois corpos e as duas vidas, se estabelece aquilo que hoje existe e o que poderia ter existido. Enquanto o que fica deveria ter partido e talvez nunca tivesse se realizado, aquele que nunca ficou talvez jamais tivesse se sentido em casa. Ou não. Do estranhamento à curiosidade, eles se repelem e se atraem, se ferem e se salvam. E é curioso como tudo é construído com muita habilidade nesse prolongamento de sentimentos que não se compreendem, envoltos pela névoa natural do local numa direção de fotografia digna de nota de Piers McGrail.
Circundando esse retorno de passados e autodescobertas, a culpa que não deixa de ser sentida em atos e na ausência de palavras, se faz fisicamente presente na forma da personagem de Cara, vivida pela própria diretora. Trazendo a consciência dos atos, das ações e expondo feridas outras. Assim, It Is In Us All consegue encarcerar-se em si mesmo, porém, se acerta ao diminuir e aumentar o tamanho dos corpos e dos espaços alternadamente, se faz boas divagações estéticas que remetem à desistência, à permanência ou à identificação, se embola na conclusão por querer ser tudo o que não fora até então, óbvio.
O desfecho, muito desvinculado em tom e forma, parece saído de um outro lugar para encontrar as pessoas que acompanhamos até então em características também desconhecidas, embora carregadas de sentimentos esperados e justificados. Ainda assim, há muito que fica, principalmente pela habilidade com que o filme mergulha na alma humana. Uma senhora estreia.
Um grande momento
Dançando