Crítica | Outras metragens

The Resemblance

Deixar partir

(The Resemblance, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Derek Nguyen
  • Roteiro: Derek Nguyen
  • Elenco: François Chau, Tom Dang, Sumalee Montano
  • Duração: 15 minutos

O luto. Perder alguém e aprender a lidar com aquele vazio. O ser humano, mesmo tendo a certeza de que sempre passará por isso, porque sua finitude é incontornável, ainda tem muita dificuldade em lidar com essa dor. Não é à toa que o fantástico, refletindo a realidade, está cheio de contos e filmes que tentam reverter e minimizar a separação definitiva. No cinema de ficção científica atual, por exemplo, com a inteligência artificial, isso se dá na reposição dos corpos por réplicas perfeitas, robóticas ou holográficas, como em A Hard Problem ou Marjorie Prime, respectivamente. Além do sci-fi, há substituições que são desconhecidas e inexplicáveis. É o caso de The Resemblance, que se disfarça de drama, com, inclusive, visita a agência de atores e um enredo realista a princípio.

É possível que se diga que não existe ordem na dor, que uma não pode ser considerada maior do que a outra, mas talvez seja possível dizer que há uma naturalidade maior na ordem da perda. É sempre difícil encarar a morte de alguém, mas perder os pais não é a mesma coisa de perder um filho. Há uma linha lógica, uma sequência natural que se quebra. O curta de Derek Nguyen (A Empregada), uma parceria do Tribeca Studios com a Netflix, conta a história de um casal que tenta superar a morte traumática do filho. Além da dor já natural dessa perda, outros elementos tornaram a partida mais dura.

Com ritmo lento e sem elevar o tom, The Resemblance vai elaborando a  culpa e o perdão, onde as memórias ganham corpo e identidade, onde o passado reencarna para aquele trio em uma difícil construção dos últimos momentos e um definitivo adeus que foi impossibilitado por razões diversas, trazendo elementos relevantes, ainda tão comuns em uma sociedade calcada em padrões arcaicos.

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A emoção é trabalhada de maneira comedida, revelando as dificuldades daquela relação, as influências sofridas, ausências e quebras de expectativas. Nguyen sabe trabalhar com o tempo e com o silêncio, e em sua superexposição de reflexos demonstra o quanto da autopercepção influencia na concepção do outro. Um jogo familiar reconhecido que a morte e o luto embaralham de forma perturbadora.

The Resemblance, enquanto obra, vai além da mensagem pela dubiedade. A constituição dramática naturalista é contrariada por elementos sobrenaturais, como detalhes específicos questionados dentro da própria trama, o segurar do hashi ou a conversa que ninguém jamais soube, e aquilo que seria uma simples atuação, um role playing game, se mostra um elegante conto de gênero, de fantasma. Algo que poderia continuar após os créditos, mas fica em aberto, permitindo a quem o assiste várias interpretações. 

Um grande momento
O detalhe do hashi.

[Tribeca Film Festival 2022]

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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