CríticasFestival do Rio

Jojo Rabbit

(Jojo Rabbit, CZE/NZL/EUA, 2019)
Comédia
Direção: Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell, Rebel Wilson, Alfie Allen, Stephen Merchant, Archie Yates, Luke Brandon Field, Sam Haygarth
Roteiro: Taika Waititi, Christine Leunens
Duração: 108 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

We can be heroes, just for one day
What you say?

Um libelo anti-guerra ou uma piada virulenta de comediante que mexeu num vespeiro. Fato é que Jojo Rabbit não deixa a audiência indiferente. E para incorporar à estética de uma Alemanha Nazista o tom adequado – pueril e ufanista – Taika Waititi faz um diálogo interessante com a obra de Wes Anderson, mais precisamente com Moonrise Kingdom e toda a obsessão pela simetria e inocência que harmoniza perfeitamente com os debilóides seguidores do fuhrer.

O próprio fuhrer surge para Jojo (Roman Griffin Davies, realmente um achado) como um amigo invisível, interpretado pelo próprio diretor-roteirista-ator neo-zelandês. Ele não está tão engraçado quanto como Viago, seu vampiro romântico de O Que Fazemos Nas Sombras, mas é uma personificação interessante do vilão genocida.

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Mesmo Jojo, a medida em que vai se desiludindo com toda aquela ideologia ariana e se amparando cada vez mais nos ideais e conforto que emergem da pessoa da mãe, Rosie (Scarlett Johansson), começa a desacreditar do amigo. A convivência com a demoníaca judia Elsa (Thomasin Mackenzie), que vive escondida na parede do quarto da irmã, também vai ampliando a visão de mundo do garoto, que conhece a paixão, a tragédia e a compaixão de formas quase simultâneas.

Sam Rockwell está doce como Adrien Brody no filme de Wes Anderson, sendo o tutor que ainda guarda alguma humanidade em meio a toda a insanidade do conflito bélico. As versões germânicas de canções dos Beatles e David Bowie na abertura e encerramento do filme são um ótimo acabamento filosófico e metafórico para um filme que dificilmente será vitorioso ou perdedor para a maior parte do público e da crítica.

Jojo Rabbit traz uma visão infantil de um conflito tão retratado pelo cinema mas pouco explorado por vieses mais arrojados, por um caminho narrativo que não é simples mas nem por isso menos louvável. Jojo faz o rito de passagem para a vida adulta com muito humor, dor, cicatrizes e a certeza de que da vida só se leva aquilo que a coragem permite abraçar.

Um Grande Momento:
“Eu sou Jojo Rabbit.”

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[Festival do Rio 2019]

Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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