Crítica | Festival

Kim’s Video

Coleção de absurdos

(Kim's Video, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: David Redmon, Ashley Sabin
  • Roteiro: David Redmon, Ashley Sabin
  • Elenco: Com sua história absurda e cheia de reviravoltas, Kim's Video é um daqueles documentários que vale muito a pena ser conhecido
  • Duração: 85 minutos

Ao começar a assistir a Kim’s Video, aqueles que nunca ouviram falar da fama do lugar, em East Village, Nova York, imaginam que vão ver mais um dos muitos documentários saudosista sobre a paixão por essas casas que até meados dos anos 1990 nos davam a oportunidade de alugar DVDs e VHSs com filmes dos mais diversos países e de vários gêneros. No caso dessa aqui, então, de muitos lugares mesmo, já que a seleção do dono, Youngman Kim era uma coisa assustadora, que deixava qualquer cinéfilo com água na boca. Bom, ledo engano. Por se tratar dessa coleção em especial, o filme é uma maluquice que começa com a história da Kim’s Video e vai dar num filme de máfia e ação.

Dirigido por David Redmon e Ashley Sabin, logo se vê que o filme é “coisa de cinéfilo”, embora suas inserções estejam na mais básica cinefilia, sempre recorrendo aos clássicos do mainstream e a nomes mais conhecidos do grande público. O formato não foge muito ao tradicional. Há uma ambientação, para mostrar em que contexto a loja surgiu, e a impressionante descrição do seu acervo: 55 mil títulos – muitos deles comprados por representantes que Kim mandava aos festivais de cinema no mundo, outros diretamente com produtoras que não conseguiam negociar a distribuição – à disposição dos clientes, claro com alguns nomes de fregueses famosos citados, inclusive com algumas dívidas reveladas.

Kim's Video
Cortesia Sundance Institute

Mas nada disso é o ponto principal do filme. Redmon e Sabin querem contar a história bizarra que aconteceu com tudo isso. Todo mundo sabe o triste fim das lojas do gênero, mas o que fazer com uma coleção dessas? Como Kim não queria separar o acervo, ficou esperando propostas de alguma instituição que recebesse todos os títulos juntos. E recebeu. De Salemi, uma cidade na Sicília, Itália, que criaria um centro cultural e um festival permanente de cinema. Bom, a partir daí Kim’s Video, o documentário, vai tomando um caminho totalmente inesperado, e não só pelo absurdo do que ele releva, mas pela própria investigação da produção.

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O modo como tudo foi acompanhado por quem levou, quem recebeu, já é enervante, mas nada que se compare com a angústia de ver as roubadas em que os diretores se metem para tentar descobrir como as coisas foram se dando. As passagens na Sicília são completamente surreais, com dissimulação, entrada no depósito, polícia, políticos e até máfia, com uma das cenas mais divertidas e perigosas do filme. Obviamente que há alguns exageros e encenações, mas nada que diminua o interesse naquilo que se vê.

Kim Video

Youngman Kim também está no filme e, embora sua participação seja na maior parte bem tradicional, sua chegada vem fantasiada de gênero cinematográfico, como se ele estivesse entrando num filme de espionagem. Isso que os diretores fazem, de buscar formas diferentes para quebrar a narrativa e dar atenção a algumas de suas passagens é interessante, bem mais do que as passagens de outros títulos que eles também usam.

Olhando para os fatos que eles trazem, é ridículo como tudo chega exatamente no padrão quando se fala de onde se fala, mas é ao mesmo tempo supreendente, e é cômico que a solução se dê por uma ideia chupada de um filme ruim. Mas é fácil demais se divertir com tudo isso. Com sua história absurda e cheia de reviravoltas, Kim’s Video é um daqueles documentários que vale muito a pena ser conhecido. 

Um grande momento
Seguindo os carros até embaixo da ponte

[Sundance Film Festival 2023]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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