- Gênero: Aventura
- Direção: Matthew Vaughn
- Roteiro: Matthew Vaughn, Karl Gajdusek
- Elenco: Ralph Fiennes, Harris Dickson, Rhys Ifans, Djimon Hounsou, Gemma Arterton, Matthew Goode, Tom Hollander, Charles Dance, Daniel Brühl, Stanley Tucci
- Duração: 130 minutos
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Depois de conhecer a super organização de combate ao crime Kingsman, é hora de conhecer sua origem. Típico filme caça-níquel, King’s Man: A Origem, volta no tempo para contar a história do fundador do clube de cavaleiros, Orlando Oxford, e do surgimento da alfaiataria de fachada, onde foram e serão solucionados casos que nenhuma agência governamental de espionagem consegue resolver. Para temperar a ação, a trama mistura eventos históricos a drama familiar e, embora siga um trajeto seguro, tropeça em tantos pontos que fica devendo.
Com roteiro de Matthew Vaughn, que segue na direção sem nunca mais ter recuperado a força do primeiro filme, e Karl Gajdusek, o longa tenta imaginar como preencher lacunas e criar caminhos para chegar ao universo criado por Dave Gibbons e Mark Millar nos quadrinhos. Tendo como foco Orlando, suas ações humanitárias e tentativas de evitar conflitos armados, leva os espectadores a um campo de concentração na África do Sul para depois se concentrar em uma intriga internacional que culmina na Primeira Grande Guerra. A questão é que o caminho escolhido não parece chegar onde quer. Por mais que o fato seja dado, a história daquele homem não leva à Kingsman, ou se leva, o filme não soube contar direito como esse arremate foi feito.
Há toda uma questão incômoda na relação que se cria com os empregados e a rede especializada de comunicações, e, principalmente, em alguns dos primeiros diálogos com Poly. Suas ações isoladas, ou ao lado do filho, baseadas nas habilidades enquanto membro das forças armadas britânicas são vistosas, garantem bons momentos, mas há um quê de espião solitário influente que quase contraria a ideia dos filmes anteriores ou dos comic books. O próprio filme se dá conta disso e força alianças, promovendo uns, inventando participações e, pior, mantendo excluídos quase no mesmo lugar de utilidade.
Para além do distanciamento de suas origens, King’s Man tem uma trama dividida que funciona melhor de um lado do que do outro. Se as missões seguram bem a onda, o conflito pai e filho não consegue se entender nem com o ritmo e nem com o tempo. Além de diálogos cliché, se perde tempo em repetições e cenas que duram muito mais do que o necessário. A diferença em cena de Harris Dickinson — que não é ruim, mas aqui parece não se esforçar — e Ralph Fiennes — que mesmo sem esforço quase nunca erra — também não ajuda muito. E Vahn e Gajdusek querem muito falar sobre isso, depois de cada evento, a cada situação nova, antes e depois de momentos de tensão, o que faz com que o filme tenha dificuldade para se manter.
Mais uma vez, frustra-se quem esperava mais. Porém, se a concisão, a sintonia fina e a qualidade da ação não se repetiram após o surpreendente Kingsman: Serviço Secreto, o mesmo não se pode dizer da elegância e do cuidado com a produção, sempre muito requintados. Aqui, nesse retorno ao início do século 20, tudo é visualmente impressionante, dos figurinos aos cenários. E agora isso tem mais relevância, já que Vaughn quer brincar com a História. King’s Man: A Origem recria passo a passo o assassinato do arquiduque Franz Ferdinando, ainda que a Mão Negra, nada literal, se transforme numa sociedade de espiões e malfeitores conhecidos, como Hanussen, o charlatão que ensinou a Hitler suas técnicas de convencimento e psicologia de massa, e o místico Rasputin, conhecido por sua influência na família Romanov, além da dupla espiã Mata Hari, cumprindo o mesmo papel equivocado de sempre.
Nos devaneios históricos, o longa encontra um lugar de diversão e ação genuíno, é quando realmente torna-se o entretenimento que deveria ser desde o início. Mesmo que quisesse algum melodrama, era aqui que precisava depositar suas fichas, porque é disso que entende. Pensando nessa diversão, até mesmo a montagem espertinha e o flashback de revelação funcionam e é ótimo ver Rhys Ifans deslizando e debochando como Rasputin, por exemplo. A sessão de cura da perna de Orlando é impagável. Isso sem falar nas lutas, todas muito bem coreografadas, filmadas e montadas com precisão.
Porém, King’s Man: A Origem não sustenta seus próprios pontos altos, querendo ser mais emotivo do que precisa. Um excesso de personalização que também o afasta da essência da Kingsman, ou do “Serviço Secreto”. Isso sem falar nos terríveis e equivocadíssimos personagens Poly, Shola e a própria Mata Hari. Se isso foi alguma uma tentativa de representatividade, não poderia ter dado mais errado, porque pode vir disfarçada com toda a aventura e ação do mundo, mas a mensagem ali é: “homens brancos, sejam bons ou maus, devem ser servidos”.
Um grande momento
Lutando com Rasputin