Crítica | Streaming e VoD

O ‘W’ da Questão

Versão cômica de Poirot com Enola Holmes

(W jak morderstwo, POL, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Piotr Mularuk
  • Roteiro: Katarzyna Gacek, Piotr Mularuk
  • Elenco: Anna Smolowik, Pawel Domagala, Szymon Bobrowski, Piotr Adamczyk, Dorota Segda, Rafal Królikowski, Przemyslaw Stippa, Jacek Knap, Olga Sarzynska, Emma Giegzno
  • Duração: 105 minutos

Produção Netflix com jeitinho pasteurizado, para agradar fãs de Amélie Poulain (esteticamente falando) e de Knives Out – temática crime e mistério -, esse O ‘W’ da Questão vem da Polônia para ser aquele “play” na plataforma bastante insatisfatório ao redor do mundo já que como filme é tão fraquinho que mal preenche uma resenha crítica.

Dirigido por Piotr Mularuk, o W é, antes de tudo, um M ao contrário, a letra inicial do nome da protagonista e heroína metida a detetive, Magda (Anna Smolowik), uma insípida dona de casa que vive na cidadezinha de Podkowa Lesna. Levando uma vida tediosa com o marido que visivelmente a está traindo com uma loira a qual ensina jogar tênis, ela fantasia viver uma aventura. Mas não tem muita coragem em se arriscar em nada, até pelo trauma do desaparecimento da melhor amiga na juventude, Weronika (o “W”, de quem guarda um colar como lembrança).

O incidente excitante do filme, o momento em que a história realmente começa a andar pra frente é quando Magda encontra um corpo de uma mulher. E de repente ficamos sabendo que ela é leitora voraz da “rainha do crime”, Agatha Christie! O inspetor de polícia Jacek — amigo de infância dela e alívio cômico na trama — chega, atendendo ao chamado e logo Magda começa a destilar teorias.

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E tão surpreendente e atrapalhado quanto esse homicídio com o qual se depara a pacata mãe e esposa e que se desenrola a trama de O ‘W’ da Questão. Ou melhor, em nada surpreende a sucessão de clichês, seja o inspetor atrapalhado a la Clouseau, a vilã maquiavélica, o mistério nada misterioso da morte de Weronika — ainda guardando uma justificativa bem machista — e a exaustiva utilização das icônicas composições do pobre Bernard Herrmann, cujas partes das trilhas sonoras de Um Corpo Que Cai e Psicose são usadas com direito até a cena da morte emulada do mais famoso filme de Hitch — trocando banheiro e faca por parque e picador de gelo.

Até o médium tão presente nesse subgênero de filmes nos anos 60 — quase sempre como charlatão — está no filme mas a comicidade pitoresca de um Blake Edwards ou o charme de Charade (dirigido por Stanley Donen) passam a léguas de distância. E não adianta tocar o tema da pantera cor de rosa num momento de revelação, ter uma cena satisfatória de adivinhação de cena de crime não tão elementar, Watson ou uma dança com leques com as colegas da pitoresca Helga se por trás na equipe criativa de O ‘W’ da Questão inexiste alguma mente realmente engenhosa capaz de abraçar o kitsch e fazer um filme saboroso. A intenção fica na superfície e a entrega é um nada.

Um grande momento
Everybody wants kung fu fighting (?)

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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