(Sonnez après minuit, FRA, 2019)
- Gênero: Ficção
- Direção: Sabrina Tenfiche
- Roteiro: Sabrina Tenfiche
- Elenco: Franc Bruneau, Elisa Libri
- Duração: 19 minutos
Sabrina Tenfiche sabe como nos apresentar um filme e seduzir o espectador ao mesmo tempo: quem não é fisgado de supetão quando um vampiro é despejado do cemitério onde morava? Ainda que, enquanto sinopse, esse quadro pareça ilustrar uma situação cômica rasgada, Ligue Depois da Meia-Noite sustenta a melancolia como vetor de entrada para o filme e para sermos apresentados ao soturno protagonista, que não consegue (e talvez nem tente) esconder uma solidão e u deslocamento tão intrínseco que a possível reação rapidamente é a de acarinhar sujeito tão necessitado de conexão.
Em um momento tão interiorizado da sociedade, tão independente e também auto suficiente, o barão Potowski se parece com tantos outros que conhecemos – recluso, anti social, exageradamente sério e afastado, com pouco carisma, parece que descrevemos as características de tantos ao nosso redor, no que a história do vampiro que é obrigado a se relacionar com o mundo a sua volta soa minimamente reconhecível e deliciosa de acompanhar.
A autora não se fecha em desenvolver um roteiro de fácil envolvimento do espectador, mas também rechear sua obra com um olhar refinado imageticamente, e um exemplo do seu olhar está em colocar seu protagonista em planos centralizados de ambientes sem vida; isso não apenas denota seu estado único como também o afasta ainda mais do convívio social através de planos potentes e de simples execução. Com o sofisticado trabalho fotográfico de Benjamin Ruffi definindo uma luz particular (para um personagem que não pode tê-la, lembre-se) em enquadramentos que reforçam a qualidade da mise-en-scene, Ligue Depois da Meia-Noite é um projeto que nos deixa aquela excelente sensação de “quero mais”.
A cereja do bolo de um filme que irá mostrar o encontro dessa criatura com uma jovem artista que filma gente comum – a ela interessa “perdedores”, vejam a ironia – é a composição única de Franc Bruneau. Daqueles momentos onde o trabalho de um ator faz toda a diferença no resultado final da obra, a presença, o trabalho corporal, a expressão de Bruneau que varia entre o enfado e a prestes explosão físico para esconder a ausência emocional, estamos diante de uma das mais interessantes criações de um vampiro recente, um acerto crucial em um filme que merece ser descoberto.
Um grande momento
Puxe uma cadeira