Crítica | CinemaDestaque

Luccas e Gi em: Dinossauros

Um passo adiante

(Luccas e Gi em: Dinossauros , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura, Infantil
  • Direção: Leandro Neri
  • Roteiro: João Costa Vam Hombeeck, Henrique Freitas, Leandro Neri
  • Elenco: Luccas Neto, Gi Alparone, Roberta Piragibe, Juliana Knust, Heitor Martinez, Bruna Griphao, Daniel Erthal, Julio Levy, Alan Santos, Andrey Lopes
  • Duração: 85 minutos

Hoje, podemos dizer que a Luccas Toon é uma produtora realizada no cinema. Seus dois filmes lançados até agora (Os Aventureiros e Príncipe Lu e a Lenda do Dragão) somaram quase 700 mil espectadores até agora, e o que era restrito a canais de Youtube e uma parceria com a Netflix, hoje vislumbra se firmar nos cinemas como uma proposta segura para crianças. Crianças bem pequenas. O terceiro longa estreia essa semana nos cinemas e mostra que o seu idealizador, o jovem influenciador Luccas Neto, se tornou uma marca estabelecida, vide que inclusive está batizando sua obra, Luccas e Gi em: Dinossauros. Seu público passa longe da crítica tradicional e busca abrigo entre os milhares de fãs que o acompanham nas redes sociais. 

À crítica tradicional (e o que seria ela?), resta se prostrar diante do filme e não entender, simplesmente. Mas dessa vez, me pego pensando se o meu lugar – e o de outros colegas de profissão – era exatamente aquele, e isso vai além de um mero “o filme não foi feito para a crítica”, até porque isso não poderia ser mais óbvio. Levando em consideração que filme algum deveria ter essa finalidade (mas óbvio que vários têm), Luccas e Gi em: Dinossauros me parece, com o trocadilho da expressão, um elo perdido dentro do cinema brasileiro hoje. Algo que não é necessariamente uma produção pop cheia de estilo e charme, mas também não é mais a estreia de Neto nos cinemas. Evidentemente o nível subiu, mas digamos que agora já não está mais no pré-sal. 

O sentido é que nada em cena é minimamente crível, qualitativo ou mesmo aceitável, sob o ponto de vista de uma análise comum e bem básica de cinema. Mas não demora nada para que fique claro que, a minha função aqui não é de interesse de nenhum indivíduo envolvido na produção. Logo, Luccas e Gi em: Dinossauros quase representa um multiverso próprio dentro do cinema, onde a liberdade para acessar independência estética e de pensamento é absoluta. É um lugar onde um adulto de 32 anos se faz passar por, pelo menos, 10 anos menos e, acreditem, isso não é um problema, diante do fato de que ele age como se tivesse 20 anos a menos. Quando percebemos que essa é a tônica e também o que espera seu fã clube, a conclusão clara é de que a crítica é dispensável aqui.

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Em cena, ao menos três atores que já mostraram potencial anteriormente parecem estar ali para categorizar a coisa. Juliana Knust está exagerada e histriônica como pede uma vilã de desenho animado, ou seja, faz todo sentido. Bruna Griphao não tem culpa, porque sua personagem é bastante mal escrita, então não conseguimos compreender sua inclinação, que é volante. Heitor Martinez também acerta ao encarar o que está fazendo como uma brincadeira, em um filme infanto-juvenil padrão. Um trio de coadjuvantes bem exagerado, o veteranos Julio Levy, seu parceiro de cena Alan Santos e Daniel Erthal, também mantém o comportamento geral, de histeria e afetação, e todos funcionam. Andrey Lopes é o destaque natural, interpretando múltiplas versões de um mesmo malandro. 

Ou seja, se em Os Aventureiros o elenco era um problema que ajudava o todo a afundar, em Lucas e Gi em: Dinossauros isso foi resolvido. Personagens centrais à parte, o grupo escalado entendeu que o tom da produção era bastante agudo, e se equilibrou para o bem coletivo. O próximo problema a ser resolvido é o de conseguir extrair desses roteiros uma moldura, que seja, para elevar o material. Não são apenas os diálogos inacreditáveis, nem as situações criadas que desafiam qualquer possibilidade de não parecer possível, mas o conjunto de obra, digamos. Tudo o que vemos está dentro de um escopo de escrita que nenhum projeto deveria almejar; o resultado é o que ouvimos com frequência, um material indigesto. 

A direção de Leandro Neri, que já pilotou um sucesso como Rensga Hits e esteve em filmes como Socorro, Virei uma Garota!, mais uma vez reforça contato com Neto, depois do longa anterior. Em comparação com a estreia do ano passado, o filme parece ter algum cuidado cênico dessa vez, mas o próprio diretor não parece muito preocupado em alcançar um padrão. Luccas e Gi em: Dinossauros foi rodado há quatro meses, e isso é percebido no que vemos. Quanto às criaturas do título… bom… melhor para quem for conferir, ter tais respostas na sessão, mas digamos que a saída para o que parecia impossível é uma questão resolvida com alguma eficiência. Menos mal. 

Um grande momento
Briga de dinos

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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