Crítica | Streaming e VoD

Marcas da Maldição

Corrente do mal

(咒, TAI, 2022)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Kevin Ko
  • Roteiro: Chang Che-Wei, Kevin Ko
  • Elenco: Tsai Hsuan-yen, Mohamed Elgendy, Kao Ying-Hsuan, Sean Lin, Ahmed Shawky Shaheen, Ching-Yu Wen
  • Duração: 110 minutos

Mais de vinte anos depois da estreia de A Bruxa de Blair e dois meses após o badalado A Medium arrebatar boa parte da crítica, a Netflix estreia o taiwanês Marcas da Maldição, e nova onda de elogios enchem as manchetes: “melhor de todos os tempos”, “mais violento dos últimos anos”, “mais aterrorizante que A, B e C”… muito cansaço dessa prática. Ainda mais vindo dessa mesma vertente do documentário falso de terror, asiático ou não. O que Eduardo Sanchez e Daniel Myrick exploraram em 1999, essa onda que foi inaugurada naquela floresta onde foram achadas fitas abandonadas em VHS, gerando uma maldição, raras vezes foi reproduzida com a mesma qualidade. Grande parte dessa novidade se foi junto com a ideia base do projeto, deixando apenas a desconfiança diante da crença que as produções precisam inserir no espectador. 

O diretor Kevin Ko, não podemos negar, tem talento para conduzir os sustos e a atmosfera crescente de insegurança em torno de suas imagens. Essa parte podemos até considerar mais fácil, diante do que esse tipo de filme precisa ainda provocar: o propósito da captação de suas imagens. Lá atrás, com o hoje repleto de filhotes Atividade Paranormal, toda essa dinâmica era infalível, afinal o filme girava em torno de imagens recuperadas de câmeras de segurança instaladas em uma casa. Fora dessa narrativa, como justificar que, em meio à correria por medo de um demônio, a fuga de um assassino desperado, o pavor de ser possuído ou a perseguição de uma seita maligna, os personagens não parem de filmar aleatoriamente, muitas vezes às próprias mortes? Não há aposta em crença imaginativa que, particularmente a mim, convença a respeito de que isso seja respeitado. 

Sei eu, muitas vezes o cinema pede que a lógica seja deixada de lado; vivemos um tempo onde os super heróis, os dinossauros, os robôs gigantes, as fábulas mágicas, são a base da cadeia alimentar do blockbuster. Mas o filme de terror pede uma base de crença lógica gerada por antigas lendas, maldições milenares e apostas no sobrenatural, que já pedem licença rumo ao fantástico. Se além dessa concessão, o espectador também precisar abrir mão de todo o resto para embarcar em narrativas que, além de tudo, se repetem à exaustão, ao menos para mim, fica quase impossível a conexão com tais reproduções de gênero. Na tela, vemos tudo que foi citado mais uma vez completar um ciclo: pessoas enxeridas se metem onde não deveriam + são avisadas que vão se ferrar + se ferram + ferram quem não tem nada com isso, inclusive. 

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Aqui, é um grupo autodenominado “Os Caça Fantasmas” (divertida ironia, né?) que serve para desmascarar pseudos casos sobrenaturais e expor tais questões em seu canal no youtube. Só que, enfim, se envolvem em algo que não era uma farsa, morrem bizarramente e deixam viva não apenas uma jovem mãe que participava do grupo, como sua pequena filha que nasceu logo após o ataque. Essa menininha fofíssima é a tal que vai pagar pelo erro dos outros, onde recai a maldição e precisa sofrer o pão que o diabo (literalmente) amassou. Sua mãe, uma pobre coitada que tinha dado a filha à adoção quando percebeu que ia dar muito ruim se ela mantivesse suas funções, tenta reaver a filha, e precisa pagar em dobro sua intromissão de seis anos atrás. A trama, simples como geralmente é, não é suficiente para prender diante de repetições. 

Ainda assim, Ko consegue impressionar com o que o gênero precisa, que é a mistura entre estranheza e apavoramento, que provoca tanto um certo desconcerto no público quanto uma dúvida em relação ao que está sendo visto. A partir da metade de sua duração, Marcas da Maldição encontra um tom acertado para o todo, o que significa que nem sempre ele precisa surpreender. A reta final, em particular, provoca um arsenal de sentimentos, que vão do medo à melancolia, no que concerne a pequena Dodo. Envolta em um universo onde não escolheu estar, a menina passa fome para tentar se livrar de um fado que foi herdado para ela por sua mãe, e a reta final do filme acaba criando uma ideia de discussão sobre maternidade compulsória bem interessante. Não sei se cabe essa ideia ser melhor apresentada aos 45 do segundo tempo, mas está lá e ajuda um filme médio a conseguir estabelecer seus valores. 

Um grande momento
O ataque principal/o corpo incendiado/a queda do telhado

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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