Além de diretores autorais dispostos a defender uma vanguarda, o cinema de invenção deve a influência que exerce graças também aos intérpretes dispostos a estampar suas faces em filmes que ainda são discutidos pelos seus experimentalismos com a linguagem cinematográfica e seu consequente desprendimento.
Maria Gladys, que completará 79 anos em novembro, é uma dessas faces, e o CineOP dedicou à ela um tributo em uma edição que enfatiza dentro de suas temáticas justamente a ousadia do fazer cinematográfico. Honraria que a atriz recebeu emocionada com o público que a ovacionou em abertura lotada no Cine Vila Rica, o mais tradicional cinema de Ouro Preto.
“Olho para o meu currículo, para os trabalhos que eu fiz, e percebo que sou uma atriz muito brasileira. Nunca fiz, nem no teatro, textos de autores estrangeiros. Antes eu não gostava disso, mas hoje entendi a importância de ser o que eu sou”, refletiu Gladys ao ser chamada no palco.
O veterano Neville d’Almeida foi um dos diretores com o qual Gladys mais trabalhou em sua carreira no cinema. Foram quatro parcerias: Mangue Bangue (1970), Piranhas do Asfalto (1971), Rio Babilônia (1983) e Matou a Família e Foi ao Cinema (1991) e a relação de afeto foi expressa pelo realizador. Neville disse que Gladys “é a mais autêntica atriz brasileira, pois personifica esse nosso país alegre, esfomeado, revoltado, querendo se manifestar e ter liberdade, tendo medo e coragem”. O diretor a definiu como a mais importante atriz brasileira do cinema mundial, ao considerar que cada cinematografia tem seus tipos, os seus atores e atrizes. “Nós temos Maria Gladys, que continua sendo a cara do Brasil”, concluiu.
O diretor e produtor cultural Geraldo Veloso também esteve presente na homenagem e se disse honrado por ter segurado o microfone enquanto a sua amiga fazia o discurso de agradecimento ostentando com as duas mãos o Troféu Vila Rica, que também enfatiza o 60º aniversário de sua carreira.
Glayds agradeceu aos colegas de profissão: “Convivi com muita gente de talento, com muitos gênios. Eles sempre foram meus amigos”. Com apresentações artísticas e manifestações da audiência carregadas de teor político, Gladys correspondeu, clamando ao final “Lula livre!”.
Foto do destaque: Leo Lara