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Meia-Noite no Switchgrass

Preferia estar morta

(Midnight in the Switchgrass, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Randall Emmett
  • Roteiro: Alan Horsnail
  • Elenco: Megan Fox, Emile Hirsch, Bruce Willis, Lukas Haas, Welker White, Caitlin Carmichael, Lydia Hull, Olive Abercrombie, Sistine Stallone, Jackie Cruz
  • Duração: 99 minutos

Não precisa avançar muito por Meia-Noite no Switchgrass (de quem foi a “maravilhosa ideia” desse título?), lançamento de hoje da Amazon Prime Video, para descobrir suas muitas falhas. A mais óbvia começa pela escalação de elenco, porque não é possível que alguém tenha achado comum escalar uma mulher com cara de modelo da Victoria’s Secret como Megan Fox no papel de uma policial que deveria ser meio bagaceira. Ou achar absolutamente natural colocar Emile Hirsch como um tira, sendo que o ator tem 1,70 de altura e tanto porte de policial quanto o É o Tchan tem de erudito; é olhar pra ele e ainda lembrar do adolescente querendo transar em Show de Vizinha. E não dá pra dizer que o filme não inventa mil movimentos de câmera para não demonstrar sua figura mirrada toda vida, óbvios contra-plongées, figurantes de seu tamanho, etc.

O filme é a estreia na direção de Randall Emmett, um produtor que, entre outras coisas, produziu Silêncio e O Irlandês – sim, os filmes de Martin Scorsese. O que leva alguém a produzir um indicado a 10 Oscars e, no ano seguinte “dirigir” ISSO, é uma pergunta cuja resposta talvez jamais tenhamos. Isso porque, ao estar ao lado de um gênio do cinema, Emmett não conseguiu amealhar para si nem os mais básicos conceitos de qualidade e adequação, estética ou narrativa. Deveríamos rezar para que nunca mais ele tivesse essa ideia de novo, porém um filme novo já está pronto (e protagonizado por Robert DeNiro e John Malkovich), ou seja, a reza deve mudar de intenção, no sentido de destruir o mínimo possível duas carreiras já bem desgastadas.

Meia-Noite no Switchgrass
Lionsgate

Quanto ao material apresentado até agora, além de não acertar muito no casting, Emmett tem muitos tiques ruins, provavelmente na teoria de que está no caminho certo. Um deles é a escolha por fade outs tão necessários quanto uma topada com o dedão, e são muitos, de perder a conta no final. Muito apaixonado por Gladiador, ele filma o matagal não traduzido do título em português como se fosse um campo de trigo, com luz incidindo para dourar a imagem… olha, que desperdício de pretensão. Sim, porque a pretensão pode ser muito positiva se você consegue alcançar o lugar onde o seu nariz empinado bate; passa longe de ser o caso aqui.

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O filme soa como uma releitura daqueles policiais ordinários que o Charles Bronson fez no fim da carreira, entre 1985 e 1995, com serial killers safados e misóginos de todo. Só que até tinha charme em títulos como O Mensageiro da Morte e Kinjite: Jogos Proibidos; aqui, só há erros de continuidade, interpretações equivocadas, e um ritmo sem qualquer inspiração. Poderia ser um filme tão ruim que acabasse sendo até engraçado, como consegue a franquia 365 Dias, mas infelizmente isso não acontece por aqui. Uma história aborrecida sobre um pai de família que mata prostitutas quase no estilo Miguel Falabella em As Noivas de Copacabana, e acaba interessando a um total de zero pessoa.

Meia-Noite no Switchgrass
Lionsgate

O coitado do Bruce Willis, que agora sabemos de sua condição médica, está em cena quase como um fantasma. Explica-se: independente da situação de Willis, não há qualquer justificativa para o sumiço do personagem, que é vendido pela própria trama como um dos protagonistas. Pois ele vai de boa até a metade e… some, voltando na cena final como se nada tivesse acontecido. Esse é o nível da produção, em um esquema meio mambembe de avançar o enredo, embora o visual nem seja um problema. Não tem muito como jogar a culpa em outra pessoa que não em Emmett, que demonstra uma ausência de talento quase que por completo.

A notar a inominável personagem da esposa de Hirsch, interpretada por uma moça chamada Jackie Cruz – pois bem, espero do fundo do coração não voltar a vê-la, ela consegue fazer Megan Fox aparentar dedicação no ofício. De qualquer forma, a personagem em si é um dos pontos mais insuportáveis de Meia-Noite no Switchgrass, um filme que tentamos salvar durante toda a projeção, por alguma culpa cristã. Tirando a naturalidade que Lukas Haas consegue passar mesmo em ambiente tão inóspito e saindo sem arranhão de uma experiência verdadeiramente desesperadora, a mediocridade generalizada transforma essa que deveria ser uma ideia simples em um passeio de montanha-russa – daquelas que quebram no looping, nos deixando de cabeça pra baixo por horas.

PS: pobre Dire Straits… será que Mark Knopfler tá passando fome, pra ceder “Brothers in Arms” pra essa tragédia?

Um grande momento
Visita à mãe da vítima (a primeira, porque a última cena do filme é de chorar!)

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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