- Gênero: Comédia
- Direção: Laura Terruso
- Roteiro: Austen Earl, Sebastian Maniscalco
- Elenco: Robert DeNiro, Sebastian Maniscalco, Leslie Bibb, Kim Cattrall, David Rasche, Anders Holm, Brett Dier
- Duração: 85 minutos
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Sebastian Maniscalco. Para quem não é do universo da comédia ‘stand-up’, pronunciá-lo não significará muita coisa, mas a partir da estreia de Meu Pai é um Perigo, tendo a crer que isso irá mudar. No imdb, o currículo de Maniscalco é surpreendente, ele esteve nos premiados Green Book e O Irlandês, mas confesso que não lembro do seu rosto, mas era fácil de sacá-lo ali entre mafiosos e carcamanos. Provavelmente por conta do segundo, conseguiu convencer Robert DeNiro a co-protagonizar sua estreia como roteirista junto a ele. E fiz esse ‘pavoneamento’ prévio para não assustar o leitor com o que parece muito óbvio em relação às escolhas do ator de Touro Indomável recentes para a comédia – e não, esse aqui não é muito diferente de títulos como Tirando o Atraso e Em Guerra com o Vovô.
Não duvido que Maniscalco tenha talento nos palcos, ou que não tenha correspondido muito bem nos filmes de Martin Scorsese e Peter Farrelly, mas ao mesmo tempo, imagino que ele tenha sido aquele cara que cresceu ouvindo que era “muito engraçado”, de todos os amigos e de que a história de sua família daria um filme hilário. Pois bem, ele foi fazê-lo, e ele se coloca como alter ego nesse Meu Pai é um Perigo, que deve ser para ele o que Minha Mãe é uma Peça devia ser para Paulo Gustavo – uma radiografia sobre a própria vida, com tons berrantes e algumas licenças poéticas dos autores. Também imagino que tanto para ele quanto para seus amigos o resultado tenha saído muito divertido, correspondendo às expectativas de quem sempre o acompanhou. Para o resto do público, o resultado não causa a mesma impressão.
Uma comédia, acima de tudo, precisa causar o que pretende. Não estou dizendo que, automaticamente, as pessoas devam sair rolando das escadas de tanto rir, até porque um espectador não deve equiparar suas reações a de outro. E mesmo sabendo o quanto a relação com a comédia varia de pessoa para pessoa, algum termômetro deveria ser acionado a partir do que é produzido, que levasse ao menos nossa simpatia. Meu Pai é um Perigo não provoca nada, na grande parte do tempo – nem sorrisos, nem empatia, nem compreensão, nem cumplicidade. Nada. Ah sim, algumas vezes provoca raiva, justamente por não nos levar a sentir coisas alguma, mas tirando isso, é uma sessão vazia de sensações, mas que não nos deixa de proporcionar alguma reflexão, ainda que diante da ausência.
Na direção, Laura Terruso, que entregou anteriormente Dançarina Imperfeita com igual impacto e boa vontade de sua parte. São filmes onde provavelmente ela foi contratada para marcar as cenas e pouco além, já que a presença de uma autoria inexiste. O autor aqui é Maniscalco, que elabora o que quer com a narrativa que construiu, onde a jovem diretora é apenas uma funcionária dele e dos irmãos Weitz, que produzem. Existe uma tentativa ininterrupta de ser engraçado, o filme acredita que está conseguindo realizar essa façanha no público, mas não basta querer se você não tem potencial de chegada, e muito disso se vale pelo conjunto que vai da direção até o roteiro, passando pelo timing (que não existe) e por essa figura centralizadora, que é o roteirista/protagonista/autor.
No entanto, paralelo à isso, rapidamente percebemos duas forças motrizes em Meu Pai é um Perigo, e elas advém de seus intérpretes, em um embate inexplicável. De um lado, temos um DeNiro que de verdade não está no piloto automático que acomete a ele quando confrontado por projetos muito ruins, e que ele aceitou sabe-se lá porquê. Aqui, o espectador pode perceber que o vencedor de dois Oscars acredita no que está fazendo, e se entrega de verdade a algo que não faz jus à sequer parte ínfima de seu talento. Do outro lado da corda, Maniscalco a todo momento tenta sabotar o próprio projeto… ou não, né… quem em sã consciência faria de tudo para estragar um trabalho tão especial pra si? Ok, então alheio à sua vontade, o filme corre ladeira abaixo porque seu mentor nunca vai além do muito ruim em cena, e na maior parte das vezes constrange com sua falta de maturidade, apatia e deslocamento.
Agora vejam só, por causa do idealizador do projeto, Meu Pai é um Perigo se estagna no que de pior uma comédia poderia oferecer: ao invés do humor, o constrangimento pela falta. Todo o resto é arrastado para essa espiral vergonhosa que faz de tudo para nos tirar da inércia, em vão. Não há sinal mínimo de inteligência, e charme, que reorganize suas intenções para alcançar algum objetivo. Nem todo mundo tem o que transbordava em Paulo Gustavo, essa é a moral da história.
Um grande momento
Salvo perdoa seu filho – e a culpa do ‘grande momento’ é exclusiva de DeNiro