- Gênero: Ficção científica
- Direção: Roland Emmerich
- Roteiro: Roland Emmerich, Harald Kloser, Spenser Cohen
- Elenco: Halle Berry, Patrick Wilson, John Bradley, Charlie Plummer, Kelly Reilly, Michael Peña, Carolina Bartczak
- Duração: 130 minutos
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Roland Emmerich em algumas ocasiões tentou ser levado a sério, em Anônimo e em O Patriota entre eles, e eu digo que o segundo, hoje nesse esquema de 10 indicados a melhor filme, teria uma chance forte na categoria principal, tendo em vista que apareceu em listas de sindicatos e teve algumas indicações técnicas. Tirando essas duas ocasiões, cuja mais recentes já ultrapassa os 20 anos, o diretor de origem alemã veio ao mundo para se divertir, e entregar entretenimento descerebrado ao público. Com honestidade e falta de noção, o moço já arrecadou mais de 3 bilhões de dólares com suas produções e tem cara de pau de sobra pra continuar realizando há 30 anos o mesmo filme: o mundo está acabando – por um motivo qualquer que ele cria a cada novo produto – e um bando de desvalidos caídos em desgraça vai salvá-lo. Chegamos a ‘Moonfall’.
Depois de Independence Day, O Dia Depois de Amanhã, 2012 e alguns outros, Emmerich conta mais essa divertida gosto riu, dessa vez tendo a lua como grande vilã, ameaçando o planeta ao sair de órbita e começar a se despedaçar em direção à Terra. Sem querer inventar a roda, e com uma dose existencialista que não estava presente em seus longas anteriores, o diretor chega aos 66 anos ainda conseguindo apertar as teclas direitinho de sua máquina de pipocas. Lógico que sua filosofia não o coloca como um Sócrates moderno, mas tem uma pitada de reflexão dentro do molho de fast food condimentado da vez. Talvez não seja o caso de revelar aqui os spoilers da vez (independente de terem sido vasculhados em trailers cada vez mais irritantes – e por isso, sigo não os vendo), mas eu sinceramente me diverti e surpreendi com os segredos lunares.
A estrutura de eventos segue a mesma base protocolar desde que Will Smith salvou o mundo da invasão alienígena em 1996 – pessoas “comuns” que não necessariamente têm correlação umas com as outras vivem suas vidinhas zoadas até que um evento de imensas proporções as une, e o produto segue um esquema de “ataque – mortes – tragédias descomunais”, em looping, até que a tal solução surja galopando no horizonte; leia-se, algo ainda mais escalafobético aconteça e o resultado seja tão surreal quanto os eventos. Os efeitos especiais continuam sendo uma grande atração, e cada vez mais é aconselhável que essas produções sejam assistidas nos cinemas, com a melhor tela e som possíveis, porque em casa sua magia tende a produzir efeitos opostos ao encantamento necessário que a massa propõe (e de preferência um bando de amigos, e pipoca, e refrigerante bem gelado).
Emmerich faz então um cinema-espetáculo mais preocupado com as sensações provocadas que com o material imagético produzido? Olha, podemos dizer que sim, já que daqui há 5 anos, as imagens produzidas aqui farão coleção com as dos longas anteriores e, no inconsciente coletivo, todos esses filmes se unem, numa maçaroca coletiva, ainda que durante sua projeção, o filme entregue empolgante aventura, daquelas que nos aninam e nos fazem ter vontade de aplaudir. A experiência individual no ato da entrega é privilegiada, e a vertigem que a sequência inicial provoca, com uma nave espacial rodando sem parar, é teste para qualquer um que se deixe envolver. A partir dessa captura inicial, o diretor consegue nos transportar para seu tradicional parque de diversões de tsunamis, explosões de montanhas e um elemento espacial que ele não lidava desde seu primeiro grande hit, mas que faz sim parte do seu repertório. É como se estivesse voltando ao início, reorganizando as premissas de Stargate e Soldado Universal; sim, é uma recordação da infância deliciosa.
Mas como todo parque de diversões transformado em experiência cinematográfica, o material humano precisa fazer a diferença, e aqui faz muito. A despeito do protagonismo e da segurança de Halle Berry e Patrick Wilson, talentosos o suficiente pra entregar verdade e descompromisso com o material, o show pertence a John Bradley de cabo a rabo. O intérprete de Sam Tarly de Game of Thrones é o motivo pelo qual você se importa com Moonfall, e se você não comprar seu KC Houseman especificamente, a metade do entretenimento desce pelo ralo. Vendendo talento e carisma, Bradley passeia por uma montanha russa perigosa e se sai muito bem, porque acredita fielmente em cada frase pronunciada. Seu lugar na produção é o do espectador comum, aquele que viu todas as oportunidades negadas, aquele que sempre foi alvo de escárnio, aquele que nunca buscou o padrão social, e só perdeu em tudo que tentou. Bradley entende o quanto da sua fala é a fala de uma fatia gigante de quem irá ver esse filme e de quem não irá também.
É através dele que o filme catástrofe tradicional de Emmerich pede espaço para a ficção científica, é ele quem trás o olhar especializado que sempre foi desprezado, e também é ele quem leva toda a simplicidade humana àquele espetáculo – ou seja, ele é a ponte entre dois lugares que o filme faz questão de unir. Se Moonfall é bem sucedido, acima de tudo, é pela presença incandescente do ator, que nos faz rir muito e nos emociona muito, com a trajetória do cara comum alçado ao maior posto possível, e impossível. Antes do término, o filme deixa claro como é apaixonado pelo personagem e pelo que o ator faz pela produção, dando a ele não apenas a cena final mas uma linda e redentora cena final. O homem, no fim das contas, está em casa.
Um grande momento
Velozes, furiosos e sugados pela lua