Crítica | Streaming e VoD

Royalteen

Reinado de excessos

(Royalteen: Arvingen, NOR, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Per-Olav Sørensen, Emilie Beck
  • Roteiro: Ester Schartum-Hansen, Per-Olav Sørensen
  • Elenco: Ines Høsaeter Asserson, Mathias Storhøi, Elli Rhiannon Müller Osborne, Veslemøy Mørkrid, Petter Width Kristiansen, Carmen Andrea Høilund, Sunniva Lind Høverstad
  • Duração: 107 minutos

A Noruega está no lucro com o cinema. Na última temporada nos deu de presente A Pior Pessoa do Mundo, um dos melhores e mais aplaudidos filmes de 2021, merecedor de toda a comemoração e aplauso por onde passou. Em contrapartida, a Netflix está lançando hoje algo como Royalteen, com absoluta certeza o primeiro de uma série, como o final bastante aberto deixa claro. Se não chega a ser o extremo oposto da qualidade alcançada pela obra de Joachim Trier, a combinação entre comédia romântica teen, drama existencialista teen e agruras da realeza teen (sim, tudo muito teen) passa longe do equilíbrio aceitável. Isso não impedirá o sucesso da produção, que parece ter um imã para ganhar espectadores menos exigentes. 

O filme é baseado no primeiro exemplar de uma série de livros que provavelmente serão adaptados em sequência pela Netflix, tendo em vista que temos inúmeros problemas (de saúde inclusive) entre seus personagens que ficam em aberto. Dirigido por Per-Olav Sørensen, a produção agrega tantos assuntos, personagens e situações de ação, que é difícil se encontrar no meio do excesso. Fica claro que o livro deve organizar melhor esse grupo agigantado de acontecimentos e de tipos, e o roteiro de Ester Schartum-Hansen só tenta resumir tudo de maneira orgânica. Não conseguiu, e temos muita coisa em cena em ritmo de urgência, mas que o filme não consegue apresentar à vontade; é tudo corrido mesmo e, a partir de um certo momento, paramos de tentar entender o que acontece. 

Royalteen
Agnete Brun/Netflix

Em linhas gerais, é a história do nascimento de um amor entre o príncipe herdeiro da Noruega e uma garota comum, ou seja, uma plebeia, que acabou de se mudar para Oslo. A linha mais óbvia onde a produção poderia ser aproveitada era a que ligasse essa situação ao humor, e o filme não se assenta nesse lugar comum. Sim, Royalteen é leve, seu público-alvo é essencialmente adolescente, e suas ideias são muito acessíveis. Ainda assim, existem muitos pontos misteriosos na vida de Lena, que serão desvendados através de flashbacks da mesma, que desvendam em sua memória os motivos que levaram ela e seus pais a essa vida nova. O tratamento dado a isso na narrativa é crucial, porque embalam não apenas a base de sua protagonista como também os eventos futuros do filme. 

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Nada dessas decisões narrativas são absorvidas de maneira orgânica pelo filme. A bem da verdade é que muitas passagens atentam o artificial com muita força, uma tentativa estranha de parecer mais denso do que deveria, uma aura séria e muito adulta de lidar com as questões que o filme apresenta. Não é como sentir falta de uma irresponsabilidade nos personagens, mas a juventude às vezes é negada à atmosfera do filme. Os personagens parecem querer fugir de um ambiente hostil que advém de uma assinatura autoral forçada. Não irá afastar o público, que ficará muito envolvido com as questões apresentadas aqui, mas que em uma análise que nem precisa ser profunda, mostra suas deficiências de roteiro e de direção. 

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Agnete Brun/Netflix

O carismático elenco jovem é o principal motivo pelo qual conseguimos chegar ao fim da empreitada ainda animados, e o gancho para a continuação até deixa o público apreensivo. Mas Royalteen – ou a maioria dos outros filmes – não sobrevive de forma absoluta só com o talento de seu elenco. Além de ser soterrado por clichês, o filme ainda os negligencia, tropeçando em soluções outras que não são testadas com cuidado, estando tudo em colapso na tela. Muitas das situações narradas aqui são tratadas com uma leviandade que só o descompasso justifica, mas não ameniza. É mais um produto Netflix que parece preocupada apenas com o algoritmo e o público médio, sem pensar no material bruto, aqui sacrificado pelo desejo de deixar tudo corrido e sem charme. 

Um grande momento
Almoço com o rei

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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