Crítica | CinemaDestaque

Kung Fu Panda 4

Evoluir é preciso

(Kung Fu Panda 4, EUA, CHI, 2024)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Mike Mitchell
  • Roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger, Darren Lemke
  • Elenco: Jack Black, Awkwafina, Viola Davis, Dustin Hoffman, Bryan Cranston, James Hong, Ian McShane, Ke Huy Quan, Seth Rogen
  • Duração: 90 minutos

Já fazem dezesseis anos desde que o primeiro Kung Fu Panda estreou nos cinemas, encantando as crianças e trazendo um humor ágil em uma sátira dos títulos de artes marciais que já se tornavam incontornáveis para plateias pop ali. Sempre com bilheterias astronômicas (os dois primeiros ultrapassaram os 600 milhões de dólares, e o terceiro, os 500), não existiu até agora um motivo concreto para que as animações não sejam feitas, do ponto de vista econômico. A estreia de Kung Fu Panda 4 mostra que o sucesso mais uma vez não será um problema para a produção, mas que talvez as repetições o sejam, já que temos a impressão de que em dois meses, ninguém lembrará mais dessa estreia. O motivo não tem a ver com queda de qualidade geral, mas de que parece que todas as histórias possíveis já foram contadas. 

Que fique claro que isso não representa (ainda) um problema para esse que vos escreve, mas é preciso ouvir a voz dos que me circundam, principalmente quando o gênero é algo que não domino completamente, como a animação. Acho particularmente que Po é um personagem muito bem desenvolvido sempre, e que suas questões parecem estar em constante mutação, sempre caminhando de maneira evolutiva. Dublado com igual qualidade tanto por Jack Black quanto por Lúcio Mauro Filho, o protagonista é um misto de doçura com uma pitada de arrogância, que acaba por resultar nessa mistura incrível. Aqui em Kung Fu Panda 4, seu novo conflito é o de mais uma vez não ter diretriz sobre a própria vida, quando o pequenino Shifu declara que ele precisa encontrar um substituto, à sua revelia. 

Assim sendo, Kung Fu Panda 4 mostra-se um daqueles casos de passagem de bastão cujo principal interessado não demonstra qualquer vocação para estacionar seu barco ou melhor, quando precisa encontrar-se como Líder Espiritual do Vale da Paz. Eis que não demora para que o espectador perceba quem será o novo herdeiro do poder guerreiro, e enquanto Po tenta interiorizar que não tem como fugir a esse chamado, um novo vilão (ou melhor, vilã) ameaça a comunidade. Divertido como sempre, o filme bebe na fonte de personagens de KungFuSão para encantar os adultos, e uma ação ininterrupta e ultra colorida para hipnotizar as crianças, tentando disfarçar que o roteiro escrito a seis mãos poderia encorpar as questões que o filme apresentar, mas assim como Po, o filme não tenta elaborar nada muito complexo. 

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A relação que se estabelece entre Po e sua protegida, Zhen, é um exemplo bem definido do que estou dizendo. Eles se conhecem em situação completamente diferente do lugar onde estarão quando o filme terminar, e esse novo olhar que vai sendo desenhado entre eles, que não tem qualquer paciência um com o outro, nunca ultrapassa a superfície, embora o desenho da narrativa já mostre suficientemente que tinha para onde ir. Assim como também A Camaleoa é um dos vilões mais bem delineados da franquia, sua capacidade seria fácil de englobar muitas discussões, mas Kung Fu Panda 4 tende a aceitar suas condições de “diversão infantil” rápido demais, sem questionar. O que resta sobre todas as coisas é a diversão inerente ao grupo de filmes, que aqui continua acima da média. 

Mike Mitchell pega o leme desse barco pela primeira vez, depois de passear por Shrek Para Sempre e Uma Aventura Lego 2. A experiência de Mitchell com o live action, onde começou a carreira, mais uma vez mostra que a agilidade de um diretor dentro da animação acaba por chamar a atenção dos demais. As sequências dentro do ‘saloon’ prestes a desabar por um abismo são inspiradas e muito ágeis, mantendo o ritmo que é esperado para a série. É uma espiral de eventos que nunca cessa, e mostra que o espectador se mantém tão conectado à série, que a duração não é sentida, e o filme segue mostrando fôlego imagético que não tem o que discutir, mesmo entre quem não compra mais os personagens e seus dilemas. 

Uma adição poderosa à Kung Fu Panda 4 é Viola Davis como a vilã debochada e arguta. Aqui no Brasil dublada por Taís Araujo com muita desenvoltura, A Camaleoa é a cereja do bolo de um filme que parece ter pena de se despedir do público. Que aqui não tenha sido visto um crescimento exponencial de sua narrativa, se quiser continuar surgindo de 4 em 4 anos, a franquia pede uma expansão de seu universo, de seus personagens e do que virá a seguir, e não apenas mais apropriações de gêneros cinematográficos. Porque agora, queira Po ou não, algo de novo precisa chegar. 

Um grande momento

A segunda vez no bar

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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