Crítica | Streaming e VoD

Naquele Fim de Semana

(The Weekend Away, EUA, 2022)
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Kim Farrant
  • Roteiro: Sarah Alderson
  • Elenco: Leighton Meester, Christina Wolfe, Luke Norris, Ziad Bakri, Amar Bukvić, Iva Mihalić, Adrian Pezdirc
  • Duração: 89 minutos

Nada como assistir um delicioso thriller como aqueles dos anos 1990 né, com toda a sua carga de inverossimilhança, seus exageros, suas facilitações de roteiro, e ainda uma carga de mensagem forte, que naquela época passaria batido das análises e hoje é um prato cheio para discussão. Naquele Fim de Semana estreia hoje na Netflix disposto a nos fazer recordar Dormindo com o Inimigo, Invasão de Privacidade e tantos outros longas que nos mostraram a situação ainda mais frágil da mulher em sociedade, que está sujeita ao que quiserem realizar com elas ou contra elas; quanto mais pensamos no filme, mais vêm a cabeça sua denúncia contra o feminicídio.

Kim Farrant conduz a ação com segurança, sem inventar a pólvora com a consciência de que nada muito relevante cinematograficamente está prestes a sair desse retrato acerca das inúmeras formas de violência contra a mulher, sejam elas fatais ou não. Existe assertividade na forma como sua mão transparece por esse imbróglio de observação feminista, mas não há uma tentativa de elevar o material imagético. O que temos em cima da mesa é mais um exemplar do suspense sobre crime cuja culpa recai sobre o “homem errado” (aqui, no caso, uma mulher), mas que não força uma situação para parecer mais garboso do que intencionava, relegado aqui a seu discurso.

Naquele Fim de Semana
Ivan Šardi/Netflix

Esse é um daqueles projetos onde seus clichês nem tentam ser escondidos, a título de deixar claro muito rapidamente o terreno onde se pisa. A protagonista Beth, vivida por Leighton Meester (de Gossip Girl e Onde o Amor Está), é desenhada como uma caipira, para enfatizar o abismo que a separa de Kate (Christina Wolfe, de Batwoman). Essa costura de classe não tem qualquer propósito no filme que não diferenciá-las. Podemos até enfatizar que existia a intenção de englobar toda e qualquer mulher como sendo vítima de machismo, explícito ou estrutural, tendo em vista seus perfis tão distintos. Dito isso, a caracterização das atrizes tão marcada é minimamente risível.

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A favor de Naquele Fim de Semana está seu suspense muito eficiente, por mais repleto de situações previamente já apresentadas nos congêneres prévios durante tantas décadas, que consegue capturar o interesse do espectador pela história da jovem injustamente perseguida que precisa encontrar a melhor amiga e descobrir no caminho verdades inconfessáveis sobre essa amizade. Farrant não têm medo de adentrar esse universo tantas vezes representado no cinema de gênero e sair de lá com uma representação para 2022 para produções que fazem parte do cinema há tantos anos. Essa correção na sua condução evidencia as entrelinhas de um roteiro escrito pela autora do livro que deu origem, Sarah Alderson, promovendo sua reflexão a partir da sutileza.

Naquele Fim de Semana
Ivan Šardi/Netflix

Não se trata de um filme cujas flechas disparadas tenham nome e sobrenome, mas não precisa ter formação em semiótica para se aproximar de seu interesse. Tanto Kate quanto Beth são vítimas incontáveis vezes, tanto de julgamento precipitado quanto por ações que, cometidas por homens, não são taxativas nem definidoras de caráter. Aqui, as duas amigas serão perseguidas e condenadas por negarem a seus algozes, homens em situação de poder, e se trata de qualquer poder no caso, as vontades de cada um. A jornada de ambas é devassada por essa pressão que se afunila e transforma o filme em representação metafórica de um dia feminino como outro qualquer.

Apesar da apresentação esteticamente empobrecida (no duplo sentido) para Beth, Leighton Meester se sai bem nesse lugar tradicional do desespero tradicional de uma vítima das circunstâncias. Ainda que os méritos de Naquele Fim de Semana não se prendam exclusivamente à ela, nem sua presença ajude a elevar o projeto, ela consegue driblar com sua sinceridade o invólucro que criaram para ela. É uma forma de alertar que, apesar de estarmos diante de uma exagerada forma de entretenimento e que ele proporcione até uma discussão mais do que pertinente, ainda se trata de um filme bem modesto, e que poderia ser, pelo menos, não tão descuidado com seu recorte estético.

Nota: 2.5

Um grande momento
Perseguição policial a pé

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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