Crítica | Streaming e VoD

Noite de Jogos

Diversão que relaxa

(Spieleabend, ALE, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Marco Petry
  • Roteiro: Claudius Pläging, Andrej Sorin
  • Elenco: Dennis Mojen, Janina Uhse, Anna Maria Mühe, Axel Stein, Stephan Luca, Taneshia Abt, Edin Hasanovic, Max Bretschneider, Bernd Hölscher, Alfonsina Bencosme
  • Duração: 90 minutos

Às vezes tudo o que precisamos é se divertir, seja sozinho ou (muito bem) acompanhado. Um bom filme, gostoso de assistir, sem atropelos, com um senhor elenco, mas nada que ultrapasse intenções pode ser o caso. Ou também podemos nos jogar em um grupo de grandes amigos, que nos faça rir a valer em uma noite regada a divertidos jogos, sejam eles de memória ou tabuleiro, com muitas risadas e a melhor companhia. Noite de Jogos é a proposta da Netflix dessa semana, uma produção alemã sem qualquer sisudez que os germânicos possam apresentar, que nos diverte sem qualquer contra-indicação, que por hora e meia te deixa entretido sem reclamação final. Qual a receita para um programa tão redondo quanto esse? 

O filme é dirigido por Marco Petry, que tem 25 anos de experiência no ramo, o que o faz conduzir uma atmosfera que se intercala o tempo inteiro, muitos momentos em várias situações convergentes. Sem perder o ritmo do que precisa mostrar e das muitas pontas que precisam ser ligadas durante a produção, temos uma daquelas pedidas que usa e abusa de clichês, cujos personagens não poderiam ser mais avatares de chavões, mas que funciona pela condução geral. O que liga tais personagens é um novo romance que acabou de começar entre Jan e Pia, cujo interesse central não nos faz esquecer do tanto de outros tipos que habitam aquele universo. O resultado de Noite de Jogos é agradável como um belo programa poderia ser. 

A começar, não podemos creditar todo o alto astral que o filme exala a comédia. Sim, é um filme essencialmente ligado ao gênero, mas que não está interessado em provocar acesso de gargalhadas no espectador. O propósito aqui é quase nos levar para aquela sala de estar onde os jogos se realizam, e nos fazer torcer pelas duplas e nos constranger pelos erros em cascata cometidos pelos personagens. Uma hora ou outra, a risada sai com alguma espontaneidade, mas a ideia creio que fosse nos tornar quase cúmplices dos eventos e amarrar nossa atenção em todos os elementos que são dispostos. Seguimos até o final de Noite dos Jogos muito compenetrados no que é construído de relações, ainda que nada seja diferente do que já vimos antes. 

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Um animal de estimação que se torna o centro das atenções, relacionamentos antigos que são ressuscitados por engano, um casamento em crise por falta de comunicação, e um personagem avulso e aleatório tornando o ambiente ainda mais exasperante. Noite de Jogos é isso e não muito mais, entretanto ficamos conectados até o final seguindo por aquela apoteose de erros. Se a princípio seria fácil de comparar a produção com o quase homônimo A Noite do Jogo (e o personagem do Jesse Plemons lá tá quase decalcado aqui), conseguimos dizer que no máximo houve uma inspiração para algo onde o esquema é mais simples e controlado. O ritmo é intenso e a adição dos elementos não é atropelado; conseguimos acompanhar tudo que acontece, mesmo que os eventos demorem para voltar a fazer sentido. 

O complemento exemplar de Noite de Jogos é o elenco fora de série que o diretor Petry conseguiu unir para contar essa história. Todos e cada um funcionam como um relógio suíço, com timing perfeito para o tempo do próximo. Um grupo formidável tem pelo menos dois trabalhos que se desenvolvem de maneira muito natural, e acabam por permitir o brilho coletivo, que são os de Axel Stein e Edin Hasanovic, respectivamente o Oliver e o Alex. O primeiro, de Assalto ao Banco da Espanha, consegue o tempo todo nos convencer de sua retidão e centralidade, sem nunca parecer exagerado e histriônico quando facilmente poderia sê-lo. Aí acontece o ponto de virada de seu personagem, que emerge como uma nova personalidade que ele defende com muita dignidade. O segundo, do premiadíssimo Nada de Novo no Front, é uma daquelas figuras que a qualquer momento parecem que vão sair do prumo, e o ator nunca o deixa escapar, encarando também o difícil desafio de estar sozinho na maior parte do tempo sem perder sua verve. 

Não tem muito o que pedir além do que um programa que não pretende criar uma grande revolução, mas cujo elenco está interessado em nos fornecer o melhor possível em matéria de entretenimento. Por mais filmes desinteressados em ser algo além do que podem, como essa surpresa pequenina chamada Noite de Jogos. 

Um grande momento
O voo de Helmut

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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