Interpretar Bruce Springsteen é um desafio e tanto, e Jeremy Allen White sabia disso desde o início. Durante a coletiva de imprensa de Springsteen: Salve-me do Desconhecido, o ator falou sobre a experiência de viver um dos maiores ícones da música estadunidense e o mergulho emocional que o papel exigiu. “Era algo assustador. Acho que interpretar qualquer pessoa real já é difícil, mas alguém tão conhecido quanto o Bruce… não há muitos como ele”, disse.
White destacou que o foco do filme não é retratar toda a trajetória do músico, mas um período específico, quando Springsteen criou o álbum Nebraska. “Decidi me concentrar nessa versão dele. Isso tornou o processo mais fácil. Em vez de tentar imitá-lo em todas as fases, me prendi a esse momento da vida dele”, explicou.
A aproximação com o próprio Springsteen foi fundamental. O ator contou que o cantor o recebeu em sua casa e até lhe enviou uma guitarra de 1955, semelhante à usada na gravação original de Nebraska. “Bruce me mandou uma Gibson J-200, de 1955, apenas um ano diferente da que ele usou. Usei essa guitarra para aprender as músicas e ela aparece no filme. Ele foi incrivelmente generoso com o tempo e com a atenção”, contou.
Esse encontro, segundo White, teve um impacto profundo. “Jantei com ele e Patti. Vi o quanto ainda são apaixonados e pensei: talvez seja disso que o filme realmente fala. Bruce estava em um período doloroso, mas ao escutar a si mesmo e fazer as escolhas certas, ele abriu espaço para um amor pleno, para ser marido e pai. Saí de lá tocado por isso.”
Sobre a construção física e o esforço para se aproximar do ídolo, White comentou que houve discussões iniciais sobre próteses, mas que optou por evitar excessos. “Não é um concurso de sósias. Eu sabia que não parecia com o Bruce, então tentei fazer tudo que estava ao meu alcance internamente para chegar o mais perto possível dele”, afirmou. Até o uso das lentes de contato castanhas serviu como parte do ritual diário: “Era literalmente mais escuro com elas, e gostei de ter esse processo físico todas as manhãs”.
Para o ator, o desafio maior estava em equilibrar a intensidade artística com o lado humano do personagem. “Bruce estava no auge, mas também vivendo uma crise interna. Ele se sentia observador da própria vida, com medo de apenas assistir as coisas acontecerem. Eu também já senti isso, essa sensação de não estar presente, de o tempo correr sem controle. É algo humano e assustador”, confessou.
White também falou sobre a solidão após grandes momentos criativos. “Depois de um projeto assim, há uma queda de energia. Você sente falta da rotina e da colaboração. Mas, no fim, é bom voltar pra casa, pra cama, pra vida normal.”
Entre os temas que mais o marcaram, ele destacou o perdão, central na relação entre Bruce e o pai. “Acho bonito ver esse amor, mesmo diante de um pai falho. Bruce entendeu que o pai tinha problemas e foi compreensivo. Há uma inversão de papéis na cena em que ele está no colo do pai, mas é ele quem ocupa o lugar do cuidador. É um gesto de perdão e de crescimento”, disse.
Quando questionado sobre o que aprendeu sobre os Estados Unidos através da música de Springsteen, White foi direto: “Acho que o Bruce é uma voz de razão. Ele observa o país com empatia e sem julgamento. Num tempo em que é difícil encontrar a razão, ele continua sendo um observador curioso e essencial da alma estadunidense.”
E, claro, não faltou espaço para falar de música. “Minha música favorita dele é “Reason to Believe”. Acho que muita gente vê esperança na canção, mas o Bruce a escreveu com um sentimento mais desesperado. E é isso que torna a arte tão bonita: o artista tem uma intenção, mas, quando a entrega ao mundo, ela se transforma”, afirmou.


