- Gênero: Documentário
- Direção: Leandro Olímpio
- Roteiro: Leandro Olímpio
- Duração: 25 minutos
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Leandro Olímpio por muitos anos foi jornalista e se aproximou dos trabalhadores de uma refinaria de petróleo no litoral paulista de Santos e também em Cubatão, local que recebeu holofotes agora com a estreia de Pedágio, de Carolina Markowicz. Lá acabou conhecendo e iniciando amizade com Fábio Mello, um dos líderes sindicais e combativa figura contra a venda do pré-sal ao mercado exterior. A forma como essa figura é mostrada e seu empenho em ser ouvido a qualquer custo, em grande parte das vezes em vão, é a mola propulsora do tocante Nosso Panfleto Seria Assim. Um grito por atenção de um homem que só queria mostrar o que ninguém queria ver, e por isso acabou lutando com poucos ao seu lado no ímpeto de alertar a todos.
Não é difícil se sensibilizar pela luta de Fábio, um líder nato cuja voz não tem descanso. Se suas plataformas não alcançarem o eco necessário, sua própria força de vontade o fará. Nosso Panfleto Seria Assim abre com o personagem na porta da refinaria tentando ser ouvido empregado por empregado, que passam por ele quase tratando-o como invisível. Ver alguém ser sistematicamente ignorado, não ter um olhar sequer direcionado a seus pedidos, isso vindo de alguém que está lutando por todos, é algo que resvala na dor de assistir. A forma empática com que Olímpio mira sua câmera para Fábio deixa a situação ainda mais melancólica, que ainda assim ergue imagens para tornar a luta desse homem em algo cheio de valor.
É através de seus discursos e ações que Nosso Panfleto Seria Assim monta um quadro não de precarização do trabalho, mas de inutilização de um discurso onde não há nada de negativo, muito pelo contrário. A tal da precarização até existe, afinal é pensando em possíveis ameaças que muitos dos colegas do protagonista não o ouvem, mas o filme quer ampliar seu olhar mais para esse agente de mudança. Como trata-se de uma produção de apenas 25 minutos, o estudo de personagem que poderia ser feito aqui não consegue se expandir, deixando suas observações para o campo da leitura de suas motivações. No exíguo tempo que dispõe, Olímpio rapidamente complexifica as movimentações de uma figura arrebatadora.
Documental na forma mais positiva possível, estamos diante de um título cuja força cênica é centralizada na descoberta de uma figura central que justifica uma possível desistência da direção em estetizar o todo. Porque a história de Nosso Panfleto Seria Assim abdica de artifícios para se provar atraente, através da carga de sedução imbuída em filmes sobre mão de obra explorada. Como a reproduzir mestres como Leon Hirszman na hora de mostrar um universo que Gianfrancesco Guarnieri tão bem conhecia, estamos diante de uma visão nada romântica de Eles não Usam Black-Tie. E é exatamente da forma seca que a produção acaba conseguindo extrair cada vez mais emoção e imagens que impactam pela crueza.
É quando enfim chegamos no embate entre Fábio e policiais durante uma tentativa de greve e aí Nosso Panfleto Seria Assim engata uma sucessão de grandes momentos ininterruptos, mostrando a dualidade entre a força e fragilidade de um homem perseverante. Quando o maior problema de uma produção é ter a duração que tem, justamente por cortar nossa relação com o universo e o protagonista, é sinal de que o acerto foi grande. Tão delicado quanto dotado de uma força que não imaginamos, diretor e dirigido mantém intacto aqui a força e a qualidade do cinema proletário, aquele que só precisa de uma voz potente para continuar se mostrando moderno. Fábio Mello mostra que, se infelizmente o país não tem muito interesse em ser justo, felizmente fomos apresentados a alguém como ele.
Um grande momento
Da sirene ao choro
Filme excelente! Só ua correção: Leandro Olimpio por muitos anos foi jornalista, e não sindicalista, trabalhando pelo Sindicato cobrindo greves nas unidades da estatal no litoral Paulista e também na Refinaria de Cubatão.