Crítica | Outras metragens

A Conspiracy Man

Aqueles que creem no que inventam

(Il barbiere complottista, ITA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Valerio Ferrara
  • Roteiro: Valerio Ferrara, Alessandro Logli, Matteo Petecca
  • Elenco: Lucio Patané, Maria Pia Timo, Simone Rinaldi, Fabio Morici, Bruno Pavoncello, Antonello Tortu
  • Duração: 19 minutos

Não é de agora que as teorias malucas existem por aí, mas ninguém estava preparado para a proporção que elas ganhariam com a chegada das mídias sociais. Que o digam fenômenos como QAnon e o terraplanismo. O que não falta na rede são comunidades e canais que disseminam teorias da conspiração cada vez mais amalucadas, com pessoas aficionadas por crenças estapafúrdias no fim do mundo, em invasões alienígenas e grandes complôs do governo contra a população. A Conspiracy Man (ou no muito mais divertido título original Il barbiere complottista, o barbeiro conspiracionista em português), Antonio Calabrò é uma dessas pessoas.

Sua ideia fixa são os postes piscando sem parar, algo que investiga e denuncia em seu canal de YouTube, acreditando ter alguma coisa a ver com 5G, fibra ótica ou quem sabe os chineses. O diretor Valerio Ferrara dá um ar de suspense à paranoia e até busca uma certa seriedade nos “estudos” de Antonio, mas a paranoia delirante só poderia mesmo chegar no humor. Os diálogos do próprio cineasta, Alessandro Logli e Matteo Petecca são divertidíssimos, não só pela agilidade do texto, mas pela conexão com tudo o que vivemos hoje com a alienação que levou o mundo a uma espécie de surto coletivo. “Por trás das piscadas tem um código… Israel está por trás disso”

Quem já conviveu com conspiracionistas sabe muito bem como é. A pessoa vai se desligando da realidade e começa a pensar apenas naquilo, a fixação vai comprometendo amizades, o trabalho e até a relação familiar. Ferrara busca esse incômodo em cenas constrangedoras que se alternam entre o absurdo e o ridículo, na barbearia e em casa. E isso segue numa crescente, em especial com a reviravolta que acontece com o filme, tornando ainda mais escrachada a comédia. Apesar do caráter estapafúrdio, tudo no curta é natural, sem grandes elaborações, e muito do que se vê depende da atuação de Lucio Patané.

Apoie o Cenas

A Conspiracy Man é cuidadoso na reconstituição de cada um de seus espaços e é evidente a consciência de Ferrara na disposição dos elementos. Ele sabe como lidar com o humor e como criar alguma tensão, em especial com a trilha sonora de Alessandro Speranza. A direção de fotografia de Andrea Pietro Munafò também tem momentos inspirados. E é uma delícia para o espectador encontrar em tela uma representação tão divertida dessa loucura que se espalhou pelo mundo, porque o que não falta são Antonios Calabròs por aí, com suas teorias cada vez mais escalafobéticas e, o pior é que agora ganham o mundo muito rápido. 

Um grande momento
A senha

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo