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O Cheiro do Ouro

A ganância de sempre

(CASH, FRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Policial
  • Direção: Jérémie Rozan
  • Roteiro: Jérémie Rozan
  • Elenco: Raphaël Quenard, Agathe Rousselle, Igor Gotesman, Antoine Gouy, Grégoire Colin, Nina Meurisse, Youssef Hajdi, Stéphane Wojtowicz, Slimane Dazi
  • Duração: 90 minutos

Esse filme, O Cheiro do Ouro, sucesso da Netflix, é feito há anos em muitas partes do mundo. Não mudou muito de todas as suas encarnações anteriores para cá, e em todas suas muitas versões geralmente consegue divertir a valer. Vamos à sinopse: um ‘loser’ profissional de uma cidadezinha explorada por uma família histórica decide se infiltrar no único trabalho possível não para ser alguém finalmente, mas para aplicar um golpe milionário na tal família, e assim apagar os anos que foi diminuído em sua existência. Para isso convoca um time de outros perdedores como ele para aplicar o esquema e conseguir contornar a opressão pelo qual todos sentem. É uma narrativa muito conhecida que mais uma vez funciona nessa comédia de trapaça francesa, que se não revoluciona o mercado, ao menos proporciona um entretenimento de fim de noite digno. 

Escrito e dirigido por Jérémie Rozan, o filme se arrisca na abordagem que faz de seu protagonista, Sauveur. O sujeito não é necessariamente um poço de carisma, e talvez seja o oposto: espaçoso, arrogante, metido e pouco humilde, é difícil torcer pelo tipo. Raphaël Quenard, o intérprete responsável pelo tipo, chafurda em uma composição que é ao mesmo tempo simples de expressão corporal, mas muito eficaz em sua projeção de um protagonista que parece não ter nada a perder na hora de tentar conquistar o espectador. A própria interpretação é um bocado endurecida, o que talvez possa fazer com que o público não compre seu barulho. Seu nêmesis é um homem pacato com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança, e é vivido por Antoine Gouy; parece ser proposital antagonizar dois tipos tão avessos ao que a narrativa deveria lhes propor. 

O que falta em O Cheiro do Ouro é detalhamento, e não apenas em um personagem ou outro, ou aqui e ali em determinadas situações. Assim como as personalidades dos protagonistas parecem cruzadas e o filme não adentrar essas possibilidades com afinco, existe todo seu entorno que enfraquecido por uma certa falta de mergulho geral. Existe um prólogo que não é bem construído para que possamos compreender bem a gana de nosso personagem central, o interesse amoroso/sexual dele nem bem se mostra amoroso ou sexual, seu melhor amigo não é definido como uma ‘escada’ cômica tampouco tem uma história para chamar de sua. E indo cada vez mais adiante na projeção, o que vemos é que isso é comum no projeto como um todo, que só dedica a criação dos golpes em si, que estão no centro da narrativa. 

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Estamos diante de um quadro igualmente simples esteticamente. Não há nada rebuscado em O Cheiro do Ouro que o faça substancioso para além de seu roteiro, e justamente nesse aspecto o filme apresenta, digamos, o excesso de sutileza descrito acima. Inexiste uma preocupação em emoldurar com mais propriedade cada caso, cada personagem; tudo em cena tem desgaste por ausência, e o espectador mais atento tende a desinteresar-se por um desenrolar que dispense abrangência. A dedicação que seria necessária para que tivéssemos empatia com o longa não é algo que esteja em tela, e no lugar dela acontecem um sem número de acontecimentos que, imaginando-se suas repetições, teriam o efeito de suprir essas ausências. Infelizmente não é possível que tenhamos uma relação com a obra mediante outras parecidas, mesmo que não faltem coincidências entre tantas produções. 

Com a exceção de Quenard, o elenco de O Cheiro do Ouro é suficientemente melhor do que o filme tem a oferecer a eles. Vide alguém como Igor Gotesman, o fiel escudeiro do protagonista, que poderia render muito mais em cena; aos poucos, sua figura se transforma em uma quase sombra sem vida, mesmo que o ator claramente pareça disposto a mais. Grégoire Colin (ator fetiche de Claire Danis, presente em Bom Trabalho e Com Amor e Fúria) tem papel inglório que poderia render muito mais, porém é igualmente escanteado pelos eventos. E vou citar Agathe Rousselle, o colosso de Titane, clamando por espaço e tendo se contentar a ser um interesse amoroso que nunca consegue alcançar espaço próprio, ou ter narrativa particular, embora o filme acredite fortemente que ela tem. Que todos esses tem. 

Mesmo que tenha imenso potencial para diversão, e que acabe entregando ao público um tanto desse lugar de repetição quase como uma espécie de “filme de conforto”, é inevitável olhar para O Cheiro do Ouro e perceber que faltam camadas ali. É uma pena, porque o potencial é extrapolado em cena, porque tudo parece seguir um quadro de diversão sem compromisso, mas que não podemos deixar de notar o tanto que é largado pelo caminho, fazendo um filme mais vazio do que poderia ser. O quentinho no coração dado pela voz dos Gipsy Kings não é suficiente para apagar o que não foi feito. 

Um grande momento

‘Djobi Djoba’

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Alexandre Figueiredo
Alexandre Figueiredo
24/08/2023 19:19

Não passa de um escape sem propósito.

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