- Gênero: Terror
- Direção: Christopher Smith
- Roteiro: Christopher Smith, Laurie Cook
- Elenco: Jena Malone, Danny Huston, Janet Suzman, Ian Pirie, Thoren Ferguson, Angela White, Steffan Cennydd, Eilidh Fisher, Alexandra Lewis
- Duração: 91 minutos
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Há uma leitura possível e interessante de O Convento, a de quando se assume a alegoria para a misoginia da igreja católica. O modo como as mulheres bem-sucedidas, independentes e céticas são tratadas como seres possuídos pelo demônio ou, no caso, como “sombras de Deus”. Essa não é nenhuma novidade na História e nem no audiovisual, e a construção é consistente no novo filme de Christopher Smith. Vivida por Jena Malone, a protagonista Grace – o duplo sentido do nome não é por acaso – é alguém que sobreviveu a abusos, abandono, violências e foi obrigada a conviver com uma culpa imposta por supostamente ter um poder que não deveria. O mesmo poder que determinou a sua pena.
O longa não esconde seu mote principal e se apresenta com uma freira, no meio de uma rua de Londres, apontando um revólver para a protagonista, e para a câmera. “Meu irmão sempre disse que eu tinha um anjo da guarda…”, diz a voz em off. Um flashback vai, então, dar conta da história. Depois de receber uma ligação da polícia comunicando a morte do irmão padre, um suposto homicídio seguido de suicídio, Grace resolve ir até o convento onde ele morava, na Escócia, para descobrir o que realmente aconteceu. No lugar, começa a ter estranhas visões do morto, de eventos do futuro e do passado, e entra em contato com traumas que tinha enterrado dentro de si.
São muitas as coisas que se misturam em O Convento e isso faz com que aquilo que ele tem de mais interessante fique escondido entre tantas distrações. O roteiro do próprio diretor e de Laurie Cook se perde na investigação da morte do irmão e é confuso ao acessar o background de Grace. A construção dos personagens é irregular. Lado a lado, estão figuras estranhas, funcionais e pouco surpreendentes, como a Madre Superiora de Janet Suzman e o Padre Romero de Danny Huston; e a configuração do convento, com seus ritos e suas habitantes também não é tão atenciosa quanto deveria, tendo apenas uma única freira com alguns elementos de subjetividade.
Em idas e vindas no tempo, o filme encontra ainda um espaço para falar de deslocamento temporal, com códigos da infância e muito mais. Por tentar alcançar uma história que vai muito além da de sua protagonista, as viagens alargam-se para outros séculos e chegam às Cruzadas, trazendo ainda mais confusão à trama. E entre as muitas pontas soltas, Smith encontra um lugar para executar sua virada, que é forte no contexto – ao menos para a leitura definida no princípio do texto –, mas que chega tardiamente e já sem tanta força na trama.
Porém, Smith sabe filmar bem, é um diretor que entende o tempo e consegue superar os problemas de seu próprio roteiro. A aposta de um longa de possessão lento e velado, com muitas pausas entre os eventos e que se transforma em um quase gore de vingança, é interessante. Há consciência na manipulação do medo e algumas ideias visuais, ainda que não todas, são boas. Malone também faz um trabalho digno e se sai bem na deterioração da sua personagem. E há coisas para se prestar atenção, como o trabalho de figurino de Emily Newby, tão significativo quando se pensa no que representa a transformação de Grace, despida de suas roupas, misturada ao “corpo sacro” e, depois, banhada no sangue.
Se nem tudo está no lugar certo e existe coisa demais, O Convento também não é um filme que deixa de funcionar, podendo divertir aos que gostam de experimentar no horror. E tem ali uma mensagem a qual ele é fiel. Pode ser batida e desgastada, mas chega diferente aqui.
Um grande momento
Na sala das santas pela primeira vez