Quem gosta de séries policiais pode se interessar por O Degelo, série polonesa original da HBO Max lançada em 2022. Na primavera, o degelo de um rio revela o corpo de uma jovem que acabara de dar a luz. A partir de então, um intrincada investigação se inicia e por trás dela está a policial Katarzyna Zawieja (Katarzyna Wajda).
Enquanto as pistas vão levando para lugares confusos e as conexões tornam-se cada vez mais inesperadas, vamos conhecendo os conflitos pessoais de Zawieja, suas feridas ainda muito longe de cicatrizarem e os dramas de uma mulher que precisa estar de acordo com os papeis que a sociedade insiste em definir para ela.
Zawieja é uma viúva que precisa lidar com o luto e o sentimento de culpa pelo suicídio do marido; com a maternidade e todas as dificuldades de uma mulher em entender esta relação; com os conflitos com sua mãe, num espelhamento da relação; e, além de tudo, com a constante necessidade de se provar, em uma sociedade que cobra mais delas do que deles.
Discussões interessantes perpassam O Degelo enquanto a trama policial de investigação se desenvolve. A série, criada por Olga Tokarczuk e Jacek Dukaj, se volta para temas como misoginia, violência doméstica, corrupção, adição e depressão. A protagonista é bem desenvolvida e um bom guia nesse universo onde tudo converge para um mesmo lugar. Há ainda uma dificuldade em estabelecer limites entre a vida pessoal e profissional, em ruídos e conflitos, muito bem elaborada.
E, de certo modo, a imprevisibilidade está ali. Embora se reconheçam as inspirações evidentes, que vão de O Silêncio dos Inocentes até Mare of Easttown, novos personagens e possibilidades vão se apresentando no caminho de maneira lógica e possível, mantendo o interesse e a curiosidade. O desfecho pode ser um pouco menos do que esperávamos, mas até essa última descoberta, o interesse se mantém.