Crítica | Streaming e VoD

O Exorcismo da Minha Melhor Amiga

Amarrado em nome de Boy George

(My Best Friend's Exorcism, EUA, CAN, 2022)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Damon Thomas
  • Roteiro: Jenna Lamia
  • Elenco: Elsie Fisher, Amiah Miller, Rachel Ogechi Kanu, Cathy Ang, Clayton Royal Johnson, Christopher Lowell, Nathan Anderson, Cynthia Evans, Rachel Leah Cohen, John Stoneburner
  • Duração: 97 minutos

Estamos de volta aos anos 1980, com quizzes de revistas adolescentes, pancake para esconder as espinhas e Culture Club tocando na vitrola e servindo de trilha sonora para a amizade da vida inteira de Abby e Gretchen. Elas são as protagonistas de O Exorcismo da Minha Melhor Amiga, terror juvenil da Amazon Prime Video que chega para aumentar o cardápio de ofertas da temporada pré-halloween 2022 e se posiciona bem naquele espaço destinado aos filmes família, com uma temática padrão mais amena e bem pontuada pelo humor.

O diretor Damon Thomas sabe chamar a atenção do seu público com elementos que são identificáveis e de fácil associação para os mais jovens ou, no caso dos mais velhos, com essa nostalgia, ainda que fique uma sensação de que ela só exista para isso. E a história, aquele velho mote da possessão, também ajuda. Aqui, ele surge numa alegoria a um sentimento muito próximo, o da mágoa. Todo mundo sabe muito bem que se tem um bicho que corrói e se transforma em um monstro terrível, é esse. 

Depois de conhecermos a história das duas amigas, nada muito distante das tradicionais aventuras colegiais adolescentes cheias de hormônio e com o pouco juízo característicos da idade, e seu pacto de eternidade, somos apresentados ao conflito. Que, por acaso, acontece numa casa de lago, vejam só. O abandono sentido por Gretchen é bem reforçado no roteiro de Janna Lamia, uma adaptação do romance de mesmo nome de Grady Hendrix, algo que se torna ainda pior nas situações que se seguem.

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O Exorcismo da Minha Melhor Amiga segue bem enquanto acompanha a deterioração da relação e a transformação de uma de suas protagonistas, embora tenha alguns problemas com a manutenção do ritmo, principalmente quando o drama se sobrepõe ao humor e tenta voltar a alternar entre os gêneros. Porém, nada que comprometa seriamente a experiência. É um filme tão despretensioso em sua proposta e tão funcional, que vai superando esses pequenos deslizes. A grande questão é que isso não dura eternamente. 

Há um ponto cômico, o do primeiro exorcismo, que encontra algo de inegável validade quando apresentado em um outro momento da trama, mas que atinge um ponto de relevância que não deveria ser dado a ele, deixando o descontrole evidente. Além do prolongamento da sequência e do desgaste do personagem, é preciso recuperar muita coisa para que o filme se reencontre e isso nunca não é totalmente conseguido. O longa termina bem, mas não do modo como começou. 

Assim, é como se O Exorcismo da Minha Melhor Amiga também tivesse se perdido no meio de uma viagem e tivesse sérios problemas para retornar. Ainda assim, tem lá os seus atrativos, como o ótimo quarteto de amigas vivido por  Elsie Fisher (Oitava Série), Amiah Miller (O Homem Água), Rachel Ogechi Kanu (Tracking a Killer) e Cathy Ang (The Blessing), e o modo como trata questões relevantes. Por mais que use da transfiguração para falar do mais natural e humano, o longa é frontal ao expor questões de costumes. A reação dos pais de Gretchen ao serem informados do possível abuso da filha talvez seja o mais absurdo deles. 

No final das contas, é uma história que vai bem com toda a família, e diverte satisfatoriamente. Deixa um gostinho de “poderia ter sido melhor”, mas entrega. 

Um grande momento
Na casa abandonada

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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