- Gênero: Romance
- Direção: Alessandro Genovesi
- Roteiro: Erin Doom
- Elenco: Simone Baldasseroni, Caterina Ferioli, Sabrina Paravicini, Alessandro Bedetti, Roberta Rovelli, Orlando Cinque, Eco Andriolo, Nicky Passarela, Sveva Candelletta
- Duração: 100 minutos
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É fácil chegar a conclusão de que, caso já tivesse a força que tem hoje há 15 anos atrás, seriam da Netflix as adaptações da saga Crepúsculo e de seu fanfic Cinquenta Tons de Cinza. A gigante do streaming foi responsável, entre outros, por adaptar 365 Dias e Através da Minha Janela, e agora lança o retumbante sucesso O Fabricante de Lágrimas. Em comum, todas essas produções são estreladas por jovens adultos (com exceção da trilogia polonesa) com hormônios à flor da pele, e dramas pessoais tratados como grandes tragédias gregas. A despeito de hoje uma parcela da cinefilia se diga fascinada pela série que lançou Kristen Stewart e Robert Pattinson, é praticamente impossível levar qualquer uma dessas produções à sério. Tudo piora porque são títulos que fazem um esforço sobre-humano para serem relevantes e profundos.
Não demora 20 minutos para que O Fabricante de Lágrimas se mostre da mesma categoria que os já citados. Erin Doom é o pseudônimo usado pela italiana que escreveu o livro e adaptou o roteiro, sendo dirigido por Alessandro Genovesi (de 7 Mulheres e um Mistério). A moça diz que é muito tímida e por isso não revela sua verdadeira identidade; tenho pra mim que a resposta é mais simples: trata-se de uma pessoa de bom gosto que quis tirar dinheiro dos incautos escrevendo uma bobagem e está agora rindo da cara de todo mundo. Independente da trama ser risível, dos diálogos serem primários e da adaptação seja tão terrível quanto poderia ser, além dos personagens sumirem, das motivações durarem 3 minutos, de decisões tomadas em uma cena e não em outra porque convém que seja assim, além daqueles já tradicionais inúmeros avanços temporais incompreensíveis, a maior parte da culpa do desastre aqui é de Genovesi.
Não há possibilidade de ter mais de 30 anos e se envolver com uma narrativa tão repleta dos mesmos clichês sobre homens abusadores que recebem autorização de mulheres maltratadas para agirem como canalhas com elas. Só que, além da mesma cafajestada de sempre construída como “retrato de um pobre coitado que a vida pisou” (dando assim a ele o direito de ser um baita de um escroto), O Fabricante de Lágrimas encontrou a direção ideal para que nada pudesse ser salvo. Em uma das cenas mais cretinas, a protagonista acorda após um acidente e as notícias vão sendo dadas a elas a conta-gotas; depois que ela responde pela segunda vez com uma indagação de uma palavra (“acidente?”, “coma?”, …), já sabemos que isso irá longe.
Durante 100 minutos, O Fabricante de Lágrimas intercala constrangimento, com comédia involuntária, com perda de tempo, com raiva genuína. Podemos então dizer que ao menos trata-se de uma produção que nos fornece muita carga dramática diversificada. Pena que nada do que sentimos é o que o filme procura transmitir, que nunca fica muito bem claro. Começamos achando se tratar de um thriller gótico, seguimos para um drama sobre órfãos, passamos então para uma nova temporada de Malhação, até chegar a um romance erótico bem leve (xoxo?), culminando em filme de tribunal. Não preciso dizer que nenhuma de suas tentativas funciona nem minimamente, e a culpa é da absoluta falta de jogo de cintura de Genovesi, que construiu um filme muito feio esteticamente e sem qualquer verniz de montagem.
Não tem como apontar na direção de ninguém do elenco, esses sim uns coitados que estão ali recebendo seu cheque, e não têm uma linha sequer para se orgulhar. O protagonista vivido por Simone Baldasseroni ainda se comunica na terceira pessoa, o que nos afasta ainda mais de enxergar qualquer química dele com Caterina Ferioli. Dentre os tipos em cena, temos uma “vilã da Disney” vivida por Sabrina Paravicini que é de causar inveja a qualquer caricatura construída por novelas ruins da Globo. Em um período aleatório, a moça veste-se com um sobretudo com uma gola felpuda, e óculos que nos faz crer que uma conjuntivite forte se abateu sobre a atriz – ou, como a escritora, também preferiu se esconder a arcar com as consequências de estar atrelada a isso.
O pior é que, por baixo desses escombros que parecem não ter fim, conseguimos enxergar um fiapo de soluções possíveis para o campo, que até podem estar no livro. O Fabricante de Lágrimas é um romance sobre pessoas adoecidas pelo descaso e pela perturbação, que se conectam por entender que uma vez à margem, sempre à margem. Isso é colocado em cena, mas talvez fosse um enredo bom demais para uma direção tão assustadora, então o melhor é abandonar as mínimas chances de ser bom mesmo. O resultado é estrondo na audiência da Netflix, e uma sessão de tortura a qualquer um que procure algo aceitável. PS: não duvide se a continuação se confirmar, afinal, sempre podemos sofrer mais e mais.
Um grande momento
O entendimento dos protagonistas descrito acima