(Il legame, ITA, 2020)
Outubro, o mês das bruxas, chegou e junto com ele as plataformas de streamings programaram uma coleção de filmes de horror para agradar a todos os públicos, com títulos de vários países e subgêneros. Lançado pela Netflix, o italiano O Fascínio (também conhecido pelo nome de A Maldição de Sofía, ou no original Il legame – a ligação) volta a crenças do sul da Itália, onde pessoas dominadas, por feitiçaria, amarração ou mau-olhado, passam por tratamentos das anciãs locais para se libertar dos maus espíritos em tratamentos que, dizem, são a origem de rituais populares de exorcismo.
O diretor Domenico Emanuele de Feudis, conhecido como assistente de direção de Paolo Sorrentino em filmes com Loro e A Grande Beleza, fisga o público na ambientação. Gritos e gemidos antecipam a entrada no local, guiada pela câmera de Luca Santagostino em um plano-sequência de exploração e, com o filtro amarelado, numa dominação de marrom que acentua o tom de tempo passado até chegar ao ritual, bem pontuado com a trilha. É uma composição eficaz, atinge o seu objetivo e atiça a curiosidade para a apresentação formal pelas cartelas.
O cuidado na apresentação, porém, vai perdendo a força à medida que o filme avança em seu tempo presente, muito pela falta de crença na relação do trio Francesco (Riccardo Scamarcio, de Testemunha Invisível), Emma (Mía Maestro, de Diário de Motocicleta) e Sofia (a estreante Giulia Patrignani), que recebe uma atenção a detalhes pouco interessantes quando restrita a seus personagens. Mas, outras ligações entre eles e os que habitam a casa antiga, em especial com Teresa, papel de Mariella Lo Sardo.
A tensão entre sogra e a nova nora, em pequenas alfinetadas e incompreensões, funciona. Aliás, Teresa consegue dar um tom interessante às interações e às cenas de sua curandeira, definidas pelo roteiro como os pontos de dúvida do filme. A estética elaborada, que busca elementos fora do tempo para complementar a personagem e uma câmera que está sempre a espionando, do balcão, por trás das portas, mantém a dúvida e isso faz com que O Fascínio siga firme em seu caminho, a despeito dos tropeços.
O longa deve muito aos lugares explorados. Os grandes espaços abertos e seus detalhes marcantes, como as árvores ancestrais, se contrapõem à sensação opressiva e limitante da casa e aos clichês do gênero que vão se realizando à medida que o filme avança. O mofo que surge, os insetos, os cantos e aquilo que está embaixo da cama são toques esperados, mas que cabem bem à narrativa. Pena que haja uma intenção muito clara de explicar tudo detalhadamente àquele que assiste ao longa e, ao chegar à revelação final, ainda encontra um Scarmarcio fora do tom, que não convence e nem importa. Isso sem falar na última cena.
O Fascínio é um filme que acerta no visual, na fotografia, e consegue elaborar bons momentos de suspensão, relacionando-se com o sombrio como contraponto, e apostando em jumpscares eficientes, pena que, mesmo resgatando um folclore tão interessante, e menos explorado pelo cinema do que merecia, não acredita em si. Ainda assim, é um filme que tem os seus momentos e mantém a atenção de quem o vê até o desvendar de seu mistério. Não é nada tanto assim, mas cumpre seu papel básico.
Um grande momento
Descobrindo o primeiro ritual