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O Fim e os Meios

(O Fim e os Meios, BRA, 2015)

Drama
Direção: Murilo Salles,
Elenco: Cintia Rosa, Pedro Brício, Marco Ricca, Hermila Guedes, Emiliano Queiroz, Elisa Lucinda, Murilo Grossi
Roteiro: Murilo Salles
Duração: 105 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

Todos os meios são válidos para que se chegue a um determinado fim. Essa é a ideia, já antecipada pelo título, do longa-metragem O Fim e os Meios de Murilo Salles. Que, mais uma vez volta a temas obscuros que estão sempre presentes no cotidiano da sociedade brasileira, como em Como Nascem os Anjos.

Voltando os olhos a um Brasil contaminado pela corrupção, o diretor opta por não fixar seu olhar nos políticos – mesmo que haja um arranjo político por trás de toda a história – e volta suas câmeras para o cidadão comum, aquele que condena os atos, mas não se importa em pegar um desvio para chegar onde deseja.

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Com locações no Rio de Janeiro, Brasília e Alagoas, o longa-metragem conta a história de Paulo Henrique, um publicitário que resolve assumir o cargo de assessor de imagem de um antigo senador de Alagoas. Em sua vida pessoal, ele acaba de ter uma filha com uma ficante e, depois de pedir pelo aborto, resolve que vai participar da criação da menina.

Depois de passar uma noite com Cris, a mãe de sua filha, ela resolve ir para Brasília com ele para cobrir política, já que é jornalista. Os dois, já como casados, ficam próximos de Hugo, o principal assessor do coronel senador, que abre os caminhos para ambos.

A primeira parte é muito instigante, com Paulo vagando pelo mundo sem destino, procurando um lugar para ficar e passagens intercaladas de sua relação com Cris. Porém, o filme acaba perdendo um pouco o fôlego ao assumir uma estrutura capitular, menos intuitiva e mais quadrada na narrativa.

Ainda assim, há muita coisa a ser vista em O Fim e os Meios. Embora seja a história de Paulo Henrique, a coluna vertebral do filme é Cris. Desde o começo, ela está buscando meios de dar o próximo passo. Ainda que critique e, como jornalista, exponha os fatos, tem em seus atos reflexos de tudo aquilo que condena. Tanto na relação com o marido, com a filha, com os colegas e com Hugo.

Mas não é uma exclusividade. Aos poucos vemos que essa postura acaba tomando conta de todo os personagens do filme. Alguns em estágio mais avançado no afundamento na lama e outros ainda com parte do corpo para fora, mas destinados ao mesmo caminho. O sentimento, é adiantado pela filha do senador, a deputada Laura, em um discurso pouco antes de sua morte.

Salles acerta ao não personalizar seu filme, deixando a corrupção como uma ação humana e possível para qualquer um. No filme as pessoas estão em Brasília, mas nenhuma delas é da cidade; as personagens têm relações com políticos, mas também poderiam não ter. Basta ser humano para ser corrupto. Embora a abordagem seja bastante interessante, há problemas em O Fim e os Meios que não conseguem ser maquiados pela qualidade da temática.

O principal deles é a irregularidade do elenco. Enquanto temos Marcos Ricca (Chatô, o Rio do Brasil) brilhando como Hugo; Pedro Brício (Muitos Homens num Só) alterna bons momentos a passagens mais distanciadas e pouco convincentes como Paulo Henrique, e Cintia Rosa (Confissões de Adolescente), que apesar de ser a personagem mais importante da trama, não consegue acertar no tom de Cris, nem nas passagens mais exageradas, nem nas mais passivas. Parece que falta um rumo que guie todos para o mesmo lugar.

Outro incômodo está na distribuição dos eventos e algumas passagens do roteiro que, mal exploradas pela profusão e falta de tempo, podem causar problemas de interpretação, como a primeira afirmação de Cris sobre a diferença dela e Paulo, ou a passagem extremamente machista com Hugo, que precisa de muita matutação para não ser compreendida de uma maneira bastante nociva ao longa-metragem.

Mas, ainda que falhe em alguns momentos na execução, O Fim e os Meios não deixa de ser uma interessante abordagem sobre a corrupção nossa de cada dia, principalmente por pluralizar a ação e fazer com que se perceba que ela vai muito mais longe do que se desejava que fosse.

Um Grande Momento:
Fogo.

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Links

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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