Crítica | Streaming e VoD

O Halloween de Hubie

O lado Dr. Jekyll de Adam Sandler

(Hubie Halloween, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Steven Brill
  • Roteiro: Tim Herlihy, Adam Sandler
  • Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Julie Bowen, Ray Liotta, Steve Buscemi, Rob Schneider, Maya Rudolph, Tim Meadows, Michael Chiklis, June Squibb, George Wallace, Kenan Thompson, Shaquille O'Neal, Ben Stiller
  • Duração: 102 minutos

Menos de um ano depois de estrelar um dos melhores longas de sua carreira (Jóias Brutas) e ser incessante e merecidamente premiado por seu trabalho, Adam Sandler parece voltar a sua velha e desagradável forma, e fórmula. Dirigido pelo mesmo Steven Brill que comandou o que talvez seja o pior filme do ator (Little Nicky, mesmo tendo consciência que é muito difícil fazer essa escolha), O Halloween de Hubie nem engraçado consegue ser, apelando às tradicionais tacadas infames, politicamente incorretas e desprovidas de humor que essa estadia dele na Netflix vêm se notabilizando – com exceção de Mistério no Mediterrâneo, um passatempo bem razoável.

A essa altura do campeonato, já sabemos que existem dois Sandler no mercado. Um é o ator dos irmãos Safdie, do Paul Thomas Anderson, do Jason Reitman… o outro, é o cara desses filmes aqui, bem pouco interessado em construção, ligado num piloto automático confortável que ele já sustenta há três décadas, calcado em humor físico muitas vezes, mas que também se traveste na expressão fácil, como aqui. Sabemos que o ator já foi o rei das bilheterias com esse tipo de produção, e que há uma legião de fãs que defendem esse tipo de cinema “do avesso”, mas acho que em alguns casos a subjetividade pede férias.

O Halloween de Hubie

Se lá nos anos 90, assim que surgiu, o humor de Sandler funcionou e foi até muito celebrado (suas atuações em projetos como À Prova de Balas e Os Cabeças de Vento são muito elogiadas, com justiça), a verdade é que o ator muito rapidamente assumiu em muitas produções um personagem recorrente, que parecia extinto hoje em sua filmografia: o rapaz com dificuldades intelectuais proeminentes, mas que em falas típicas dos próprios filmes, se definem como retardado, débil mental ou maluco. Isso tudo está infelizmente de volta em O Halloween de Hubie, incluindo um politicamente incorreto nada aconselhável para os dias de hoje.

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Assim como no já citado Little Nicky e em O Rei da Água, seu personagem é uma espécie de adulto que não cresceu, sua mãe é alguém que o defende além do aceitável, toda a população o destrata e diminui (inclusive humilha e bate, eventualmente), mas esse personagem tem uma esperteza, que consegue fazê-lo fugir dessas agruras, o que não muda o fato de ser odiado por ser quem é. Será que Brill e o roteirista Sandler não notaram que o mundo mudou MUITO em 30 anos, e que essa diminuição de minorias não só é antiquada, como danosa, desrespeitosa e, com o perdão da palavra, escrota?

O Halloween de Hubie

O mais preocupante no entanto é o fato de O Halloween de Hubie praticamente não ter qualquer graça, o que é mortal para uma comédia, já que seria sua função principal. Enquanto no meu texto anterior, Não Vamos Pagar Nada, a comédia não era perdida mas o cinema ficava de lado, aqui o cinema dá as caras, mas é o pior cinema possível, e sem nem um vestígio do bom humor presente no lançamento nacional. Então, o que adianta os códigos cinematográficos estarem dispostos no produto, se todo o resto é indigno de ser chamado de tal?

O filme ainda ensaia uma espécie de caminho romântico para o protagonista (e Sandler não se roga desse lugar, que já abrigou boas incursões suas, como os divididos com Drew Barrymore e Jennifer Aniston), mas soa minimamente deslocado um homem de 50 anos que fala com voz infantil como é o timbre escolhido pelo ator aqui e ser alvo de uma paixão avassaladora de Julie Bowen, uma mulher adulta.

Hubie Halloween, filme da Netflix com Adam Sandler

Bom, não sei se há algum motivo para assistir O Halloween de Hubie, a não ser que eu esteja me comunicando com um fã incondicional de Sandler, daqueles imunes a tudo que descrevi acima; talvez um momento onde Steve Buscemi encontre outro parceiro típico do ator lá pelas tantas seja algo ainda minimamente interessante. Para os fãs, boa diversão; pra todos os outros, boa sorte.

Um grande momento
Ronronando na delegacia

Ver “O Halloween de Hubie” na Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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