Suspense
Direção: Leigh Whannell
Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Aldis Hodge, Michael Dorman, Storm Reid, Amali Golden, Harriet Dyer, Sam Smith
Roteiro: Leigh Whannell
Duração: 110 min.
Nota: 4
Outro dia desses, aqui no site estava sendo publicada a crítica de Doolittle, que falava sobre o filme trazer a sensação de se estar novamente assistindo aos filmes de fantasia e aventura da infância – no caso, aqueles exibidos na Sessão da Tarde nos anos 1970/80. Sem entrar no mérito da qualidade daquele título, porque isso não é o que interessa aqui, mas essa sensação de voltar àquele passado.
A ideia por trás de O Homem Invisível faz parte de um projeto maior da Universal Pictures: o de resgatar seus monstros clássicos dos anos 1930, como Drácula, Frankenstein, Lobisomem e o já lançado A Múmia. Aqui, como deixa óbvio o título, traz aquele inspirado no livro homônimo de H. G. Wells. O sentimento quase nostálgico de retorno, portanto, era não só esperado, como desejado.
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Porém, ao sair da sala, não há resquício daquilo que James Whale fez em 1933. Ao contrário dos monstros clássicos ou da Sessão da Tarde, não sobra nada da sensação esperada. É como sair de um thriller dos anos 1990. Para piorar, ainda não é como ter visto um Cabo do Medo (1991), que, por acaso, já tem o final contaminado pelo cinema da época; é como se o filme fosse um primo de A Mão que Balança o Berço (1992), Revelação (1992), Dormindo com o Inimigo (1991) ou tantos outros. Pior do que isso, o que fica por um tempo vai transformando o longa em algo ainda mais genérico e ultrapassado.
Completamente baseado na construção do gaslighting, O Homem Invisível conta a história de Cecilia, uma mulher que sofria violência doméstica, cárcere privado e repetidos abusos por parte do marido. Com a ajuda de sua irmã, ela consegue fugir de casa, mas vive em estado de medo constante. Mesmo sabendo que algo está errado após a notícia da morte de seu algoz, ninguém acredita nela.
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Dirigido por Leigh Whannell, o longa até começa bem e faz um interessante jogo psicológico, colocando em dúvida a sanidade da protagonista, mas entregando ao espectador informações que são desconexas com aquilo que é dado de pronto. Na incerteza, há uma construção eficiente do suspense, e um ritmo equilibrado, bem sustentado pela atriz Elisabeth Moss, em mais uma ótima atuação.
As reações da personagem são coerentes com as de alguém que sofreu um trauma recente e está passando por algum transtorno psicológico, como síndrome do pânico: o esforço para sair de casa, a contenção nas pequenas alegrias, o medo de qualquer coisa. Após um tempo, quando tudo se estabelece, o seu desespero para ser ouvida se sobressai. A dupla Whannell e Moss sabe que precisa deixar claros cada um desses sinais para manter a trama no caminho.
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Ainda que tivesse uma trilha enxerida aqui ou um exagero ali, tudo estava indo bem. Até a primeira reviravolta. Frágil e tola, ela vem para ameaçar o mistério e justificar a explosão de violência. Lá estão os anos 1990 de novo. Depois de tanto tempo, depois de tanto esforço para construir um suspense psicológico interessante, tudo vira tapa, soco, tiro e sangue para todo lado. E não é o primeiro título inspirado na mesma obra de Wells que aposta nisso.
Veja bem, não que haja problemas em filmes que são elaborados para serem graficamente violentos. Assim como não é um problema no cinema onde a violência tem um papel narrativo. O que incomoda é o descambar para esse tipo de ação em filmes que estavam trilhando um outro caminho. O que se lê em O Homem Invisível é: o meu suspense não é suficientemente bom, preciso de sangue. E, desculpe, isso é muito anos 1990 e se não era aceitável lá, imagine agora.
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O grande questão é o porquê desse voltar a uma coisa que já não tem mais sentido, que já se perdeu, ficou ultrapassada. Quando se vê esse movimento no mundo, como um todo, com vários retrocessos incompreensíveis, fica a pergunta se é algo natural que a cultura pop também se sinta compelida a fazer o mesmo. Será que percebe no público alguma ansiedade por esse tipo de material?
Ao encontrar um passado muito menos interessante do que aquele que buscava homenagear, O Homem Invisível se torna um filme problemático e bastante contraditório. Todo o trabalhar do gaslighting e da libertação feminina é destruído pela violência gráfica e gratuita justamente contra a mulher. E não é uma questão de contexto, é uma questão de apostar em estéticas e narrativas velhas e ultrapassadas, usadas por quem não confia no seu material, não se garante.
Um Grande Momento:
Caixa de correio.
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