- Gênero: Drama
- Direção: Sergio Rezende
- Roteiro: Sergio Rezende
- Elenco: Andréia Horta, Gustavo Vaz, Paulo Gorgulho, Denise Weinberg
- Duração: 79 minutos
-
Veja online:
João é um tipo solitário, que tenta fazer as pazes com o próprio passado, quando perdeu seu grande amor, Mariana, diante de uma série de eventos que fugiu ao controle do casal. O Jardim Secreto de Mariana, novo filme de Sérgio Rezende, investiga o passado e o presente desses dois personagens para que seu futuro possa não ter o mesmo destino. Aos poucos, uma narrativa envolvente se desenrola, no que também podemos observar a falta de intimidade do veterano diretor com o prosaico cotidiano de uma relação a dois, passando ao largo de sua tradição autoral épica.
É preciso que o cinema brasileiro possa investigar histórias humanas (e algo mundanas) como a de O Jardim Secreto de Mariana com mais frequência, e que minimamente promova uma discussão sobre suas escolhas imagéticas, mas também narrativas. As intenções para o projeto eram as melhores, mas falta estofo ao material; na verdade, a palavra certa é volume, que poderia definir melhor sua ausência principal. Com uma textura naturalista, cabia ao roteiro do filme (assinado por Rezende e sua filha, Maria Rezende) dar espaço para desenvolver suas minúcias, pois são elas que vão dar complexidade não apenas aos personagens como também às suas ações.
Nos últimos anos, minisséries americanas (muitas delas desenvolvidas pela HBO) foram responsáveis por complexificar a vida cotidiana e seus percalços, muitas vezes tidos como prosaicos. Essa era a visão de Rezende, um homem que tem espacialidade pelo grandiloquente (Guerra de Canudos é um de seus maiores momentos no cinema, mas também Mauá e O Paciente), mas ele já tinha passeado pelo mínimo antes, no belo Quase Nada. Aqui, assolado por questões de grandiosidade psicológica, faltou ao diretor manter sua duração agigantada, dessa vez para desenvolver o interior de seus personagens, e não a grandiosidade de seus feitos.
Soa abreviado a história que abarca tantas camadas de duas pessoas que sofreram tanto por amor e por engano, pelo silêncio e pelo descaso próprios, e pra conseguir abarcar sua intensa psicologia. Na tela, vemos tanto João quanto Mariana pular de um sentimento a outro, da depressão e melancolia para uma ansiedade e uma certa euforia, sem dar conta do que os levou até novo momento. Não falta entendimento para captar as essências, mas faltam as nuances que separam um estado do outro; parece frio demais, sem paixão, justamente um sentimento que deveria permear as decisões tanto de um quanto de outro, que acabam se atropelando em seus sentimentos.
Sem esse dado capital, fica difícil fruir a narrativa durante a maior parte do tempo, e o espectador segue muito mais absorvendo as cenas específicas do que acompanhando a sua totalidade, que carece da força que Rezende imprime em suas histórias baseadas no verídico. Aqui, os saltos temporais comuns a biografias se tornam ainda mais incômodos, tendo em vista que precisávamos do tempo para compreender a gravidade das agressões cometidas, sejam elas verbais ou emocionais. Da forma colocada, a banalização daquela relação acaba saltando mais aos olhos, completamente o oposto do que deveria ser.
À Andreia Horta e Gustavo Vaz, dois atores de vastos recursos, cabe tentar escapar das armadilhas impostas por espelhar recortes de um casal, muito mais do que sua totalidade, e não é culpa deles que tudo saia muitas vezes despropositado. Os coadjuvantes Paulo Gorgulho e Denise Weinberg se saem muito melhor, justamente porque a eles cabe a pontualidade das cenas, um escopo restrito. O Jardim Secreto de Mariana, por fim, peca pela ausência de material, porque o espectador compreende o lugar que se queria alcançar. O lamento é pelo que se abriu mão, em nome de uma concisão que aqui fez muito mais mal que bem.
Um grande momento
A natureza é bruta