- Gênero: Drama
- Direção: Marcela Lordy
- Roteiro: Marcela Lordy, Josefina Trotta
- Elenco: Simone Spoladore, Javier Drolas, Felipe Rocha, Gabriel Stauffer, Martha Nowill, Teo Almeida, Leandra Leal
- Duração: 99 minutos
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Em 69, Clarice Lispector lançou “Uma Aprendizagem ou O Livros dos Prazeres”. Para além do mergulho erótico de Chaya na psique feminina e nos meandros do desejo, naquilo que dificilmente se explica, floresceu uma obra essencial em prosa e que fala fundo a qualquer mulher que o leia pois espia a descoberta, a auto aceitação e o amor que verve de si, que retroalimenta.
“Este livro se pediu uma liberdade muito maior que tive medo de dar; ele está muito acima de mim. Humildemente, tentei escrevê-lo. Eu sou mais forte do que eu”
Marcela Lordy, em colaboração com sua Musa Impassível Simone Spoladore, dirige e roteiriza essa adaptação cinematográfica (com a portenha Josefina Trotta), trazendo um olhar circunspecto sobre a protagonista Loreley, que acaba descambando em uma narrativa prudente demais, distante de inebriar ou envolver como se esperaria de tal.
Uma coprodução Brasil e Argentina, O Livro dos Prazeres foi um dos filmes mais procurados na Mostra Internacional de São Paulo deste ano, encerrando ainda o Festival Internacional de Mulheres, além de participar de uma programação especial alusiva às Clarice Lispector.
Spoladore é uma bela atriz na essência da acepção dessa afirmação: se entrega plenamente para compor Lóri, sendo possível empatizar com as dores advindas da incompreensão dos que a cercam. Ela transmite muito com o olhar perdido, a introspecção, falta de trato social e melancolia na qual se abriga. Seu corpo dialoga intimamente com a solitude, a necessidade de pertencer a alguém e dar algum sentido aos dias que passam escassos, modorrentos, na casa larga e quase que inabitada que serve de cenário e morada de sua personagem.
Porém, o ator argentino Javier Drolas é um péssimo Ulisses não pelo que o personagem – um mero arquétipo da idealização romântica na obra – representa, mas sim pela atuação sem vida e que não apreendeu muito sobre o homem mais velho, intelectual praticante do mansplaining que quer ‘sorver’ toda aquela pobre mulher com tesão. E aí O Livro dos Prazeres se demora nos jogos sexuais desinteressantes. Não joga com o tempo psicológico com a destreza que poderia, nas reentrâncias do coração.
A metáfora do mar está lá mas ela não tem uma importância catalisadora de transmutação; Lóri precisa se perseguir antes de buscar a completude no outro mas isso não aparece imageticamente em O Livro dos Prazeres filme. A ânsia não está lá. O Mulher Oceano de Djin Sganzerla parte de um material original, menos portentoso, mas com naturalidade tergiversa sobre inquietudes do feminino.
Bom, aqui está o final da crítica, já o filme, não consegue encerrar em si mesmo uma análise aprofundada da busca pelo amor e pelo prazer com todos os descalabros da intensidade que os acompanha.
Um grande momento
Reencontro espelhado, experimentando a si mesma
[FIM20]