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O Perfumista

Resumo do resumo

(Der Parfumeur, ALE, 2022)
Nota  
  • Gênero: Policial, Suspense
  • Direção: Nils Willbrandt
  • Roteiro: Nils Willbrandt, Kim Zimmermann
  • Elenco: Emilia Schüle, Ludwig Simon, Robert Finster, Anne Müller, Sólveig Arnarsdóttir, August Diehl
  • Duração: 95 minutos

“O Perfume”, livro escrito por Patrick Süskind e publicado em 1985, já rendeu a adaptação Perfume: A História de um Assassino, dirigido por Tom Tykwer. Uma nova adaptação chega à Netflix, O Perfumista, e me parece que o livro agora é só uma inspiração vaga, dadas as diferenças absolutas entre as duas narrativas. Só a base da história é mantida, ou seja, um homem com um dom deseja criar o perfume que represente o mais próximo possível ao odor do amor, e para isso passa a cometer assassinatos. Todo o resto é remanufaturado sob outro prisma, e tal personagem dessa vez nem é o protagonista da narrativa. A semelhança mais forte entre os dois filmes, no entanto, é o de que a obra de Süskind não conseguiu render ainda um filme que seja minimamente razoável. 

Se a versão anterior era, a despeito do enorme sucesso no Brasil, a um só tempo brega e alegórica à exaustão, faltam adjetivos que contemplem a estreia de hoje dirigida por Nils Willbrandt. Temos a impressão de que estamos diante de uma obra incompleta, ou mal resumida. Os primeiros 20 minutos, por exemplo, são narrados como se estivéssemos sendo colocados a par dos capítulos anteriores de uma série, e essa sensação se repete constantemente durante a produção. Vez por outra, o filme parece fazer uma síntese do que precisaríamos saber àquele ponto da história, e ao invés de contar como os eventos chegaram ali, o roteiro dá uns trotes pra frente, e a sensação é de realmente nos faltar blocos de acontecimentos. 

Se a intenção com isso era ganhar ritmo, O Perfumista perde uma bela oportunidade de criar uma narrativa absorvente, envolvendo o espectador em sua trama curiosa. O que resta em seu lugar é um amontoado de clímaxes que acabam por perder a profundidade; quando em um mundo de excessos, nada mais é excessivo. O filme é concebido dentro de uma espiral de histeria de eventos, que de tão constantes, param de surtir efeito muito rapidamente. A narração que acompanha os eventos ajuda a função de resumir os acontecimentos, sem qualquer sinal positivo para tanto. Pelo contrário, o filme briga contra si mesmo: nem mostra graficamente os rastros de sua narrativa, nem deixa o espectador imaginar tais cenas; são as duas coisas, que ao mesmo tempo é coisa nenhuma. 

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O Perfumista está em caso raro de filmes que os excessos pretendidos não foram o suficiente para contemplar o recorte proposto aqui. Falta duração, principalmente, para que todos os arcos, dramáticos e psicológicos, suplantassem a totalidade que é exigida ali. O que vemos mal deveria ser classificado como filme, mas no máximo como um compacto dos “melhores momentos” de um roteiro. Não há cuidado em manter o filme dentro de um padrão de entendimento, como se o espectador fizesse leitura dinâmica do universo aplicado em cena. Não há a centralidade de ação, e sim uma correria desenfreada para dar conta de sentimentos que poderiam render uma sessão densa a respeito das formas equivocadas de amar, e de tentar prender alguém. 

Mais ou menos como também é versado em Era uma Vez um Gênio, o amor exigido nem faz sentido, assim como nunca será conseguido – o amor precisa ser livre para ir e vir. O Perfumista se debruça sobre isso, e esse contexto vai sendo apresentado aos trancos e barrancos por um filme errático em suas decisões narrativas. O elenco encabeçado por Emilia Schüle e Ludwig Simon não tem qualquer culpa pelo que vemos de histérico narrativamente falando, e todo o grupo sai ileso da produção; especialmente os protagonistas tem belos momentos, apesar dos pesares. Conseguem desfiar a psicologia dos seus tipos com muito mais propriedade que Willbrandt, que comete o erro supremo de querer ajudar o espectador, e acaba atrapalhando a todos, e sujando a tudo. 

Um grande momento

Apertando o vidro na mão

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Natália
Natália
16/11/2022 19:52

Sua crítica foi cirúrgica. Acabei de assistir ao filme e concordo com tudo que escreveu. Filme para passar longe!

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